O GLOBO - 19/04
Os índices de preços não deixam dúvida sobre o comportamento da inflação nos últimos meses. Mesmo que a trajetória tenha sido de declínio a partir do salto registrado em janeiro, a variação mensal permanece muito alta, considerando-se que o país tem como meta conter a inflação anual em 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais (teto de 6,5% e piso de 2,5%). O preocupante é que a inflação já não mais se concentra em alguns itens ou alguns segmentos específicos, como é o caso dos serviços, pois a maioria dos preços pesquisados (representando cerca de 70% do índice oficial, o IPCA) subiu em março em relação ao mês anterior.
Diante desses resultados, os agentes econômicos e até mesmo as pessoas em geral começaram a não acreditar que o governo, com sua política atual, conseguirá derrubar a inflação. Com o longo histórico de inflação aguda e crônica do Brasil, o fator psicológico acaba sendo muito relevante na formação dos preços. Basta que se multipliquem as apostas na direção de uma alta da inflação (ou de que não haverá queda) para aumentar a probabilidade de tal previsão se concretizar.
Daí a importância de se vencer a chamada batalha das expectativas. A conquista da credibilidade depende do conjunto da política econômica. Se as finanças públicas estão em ordem, com receitas e despesas se comportando dentro das estimativas do Orçamento, os agentes e econômicos e os mercados passam a confiar mais na estabilidade da moeda. Mas, se a política fiscal é expansionista, com despesas se expandindo mais rapidamente que as despesas, esse sentimento se inverte e ainda introduz no cenário o receio de elevação futura de impostos para restabelecimento do equilíbrio. Não por acaso o governo sempre deve dar provas de sua preocupação com o equilíbrio de curto, médio e longo prazos nas finanças públicas (é nesse ponto, por exemplo, que a resistência a reformas na previdência contaminam as expectativas quanto à trajetória da inflação).
Se o conjunto da política econômica não caminha claramente no sentido de conter a inflação, resta ao Banco Central assumir a tarefa, como guardião da moeda. Reduzir as taxas de juros é um objetivo que a economia brasileira deve buscar ao longo do tempo, para equipará-las às que vigoram no mercado internacional. No entanto, mesmo que, pela média, sejam consideradas altas, os níveis dos juros básicos no Brasil vêm sendo vistos como incompatíveis com o esforço para se derrubar a inflação e trazê-la ao centro da meta (4,5%). O Banco Central tem avaliado essa questão há vários meses e finalmente tomou a decisão mais sensata no momento, elevando de 7,25% para 7,5% a taxa Selic. O BC não podia ficar engessado diante do objetivo de médio prazo de de equiparar os juros brasileiros aos do exterior. Se no curto prazo for preciso elevar os juros, as autoridades monetárias não podem se negar a isso, por mais desagradável que seja a decisão.
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