FOLHA DE SP - 19/04
A presidente da Petrobras, Graça Foster, disse ao jornal gaúcho "Zero Hora" que "acha lindo engarrafamento", pois "seu negócio é vender combustível". E informou, orgulhosa: "Estou faturando". Pelo visto, parece satisfeita com os engarrafamentos que vê a bordo de seu helicóptero ou de que toma conhecimento pelo rádio e pela TV.
Como o verbo é livre a ponto de comportar tais afirmações, atrevo-me a dizer que preferiria uma pessoa mais delicada à frente da Petrobras. Por mais que tenha vindo ao mundo para vender gasolina, seu cargo não a autoriza a se comportar como uma frentista de estrada. A Petrobras deve ter compromissos com o povo que a sustenta, e não apenas com o conteúdo dos buracos que perfura.
É verdade que a culpa dos engarrafamentos não é exatamente sua, mas do governo a que pertence --o qual vive baixando alíquotas e estimulando a produção e venda de carros para fechar suas contas, com o que asfixia e torna inabitáveis nossas cidades. Isso a despeito da tendência internacional a devolver as cidades aos cidadãos, tirando carros da rua e estimulando o transporte público, as bicicletas e a simples caminhada.
Sei também que o pensamento de Graça Foster deve repetir o de todos que a antecederam na presidência da Petrobras, e que a esta cabe somente cuidar de seus negócios, não "pensar o país". Talvez devêssemos até agradecer-lhe por ser tão franca: ao contrário de seus antecessores, mais dissimulados, ela torce explicitamente pelo carro, pelo engarrafamento, pelo mau humor no trânsito, pela poluição, e contra o cidadão que lhe paga o salário e compra a sua gasolina.
A tal desprezo pelo equilíbrio urbano e pela qualidade de vida dos brasileiros das cidades, deve corresponder um equivalente pelos contínuos estragos ambientais provocados por sua empresa. Azar do Brasil.
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