O Estado de S.Paulo - 10/11
A coisa que eu mais gosto de fazer na vida é viajar. Tá bom, talvez primeiro seja trabalhar e depois viajar. Talvez eu só trabalhe pra poder pagar minhas viagens. É isso! E uma das coisas mais legais de viajar é planejar a viagem. Investigar aquele país, quais são as atrações principais, quais são aquelas mais alternativas, coletar dicas com quem já foi, vasculhar as novidades... Eu começo a pesquisa uns oito meses antes. Você praticamente viaja antes de viajar. Com a internet, então, você não precisa nem mais viajar. Tá tudo ali. Todas as fotos na melhor resolução possível, relatos descritos nos mínimos detalhes de tudo que está por vir. Por isso mesmo, por conta desse monte de informação, viajar, hoje em dia, pode correr o risco de ficar chato. Ou, menos legal.
De tanto olhar praquela paisagem nas fotos, de tanto saber sobre tudo o que acontece por lá, quando chega no ao vivo, o impacto diminui muito. Eu já fui pra lugares de todos os tipos. Desde os clássicos Paris e Nova York até pruns mais malucos como o Marrocos, Vietnã e Croácia, e tenho cada vez mais planejado menos. Claro que é uma maravilha poder viajar com tudo já definido, hotel, passeios, alimentação, você pode fugir de muitas roubadas, mas... As roubadas também fazem parte da viagem. Não ser enganado pelo taxista em Roma é quase que não ter ido à Itália.
Viajar consiste em você ser turista. E você ser turista consiste em você ser perdido e otário. Não adianta fingir que você tem o controle da situação porque você não tem. Você não mora lá, você não conhece lá. Mesmo que você já tenha ido pra lá, não se engane, você conhece 10% de lá. Eu fico imaginando como seria viajar pro Egito em 1980. Sem internet, sem celular, sem informação nenhuma, sem saber o que encontrar. Isso sim devia ser uma aventura. Imagina chegar na Índia em 91! Tudo devia ser assustador e, ao mesmo tempo, impressionante. Tudo era novo, diferente, nunca antes visto. Hoje você já sabe até qual o cheiro da Pirâmide porque o Discovery já esmiuçou a história de todas as formas.
É claro que, por conta do acesso à informação, viajar ficou muito mais fácil e prático, e é muito melhor saber, ainda no Brasil, que o hotel em que você planejava ficar no Nepal é na verdade uma casa de açoite de prostitutas menores de idade vindas do leste europeu, mas o Taj Mahal com certeza não causará em mim o impacto que causou na minha avó. Mas tudo isso, não é nostalgia de um tempo que eu não vivi e nem estou querendo dizer que aqueles tempos sim é que eram bons tempos. Até porque, aqueles tempos não podiam ser bons tempos porque não tinha ar condicionado em lugar nenhum. Mas, pensando em tudo isso, agora quero chegar lá e ver qual é a do lugar. Eu quero tentar deixar a Muralha da China me surpreender. Vai que eu chego lá e descubro que é tudo feito de papel crepom.
E se você tiver alguma dica sobre Quênia, Tanzânia ou Ruanda, to querendo!
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