FOLHA DE SP - 23/10
SÃO PAULO - Em geral gosto muito das análises que Matias Spektor escreve quinzenalmente algumas páginas à frente, em "Mundo", mas sua coluna publicada na última quarta não me convenceu.
O pressuposto do texto é o de que o Brasil precisa fazer o que estiver a seu alcance para ocupar um assento rotativo no Conselho de Segurança da ONU. Nas entrelinhas, fica a sugestão de que uma cadeira permanente seria ainda mais bem-vinda. Tenho muitas e sinceras dúvidas.
É verdade que estar no centro do órgão mais poderoso da ONU daria peso político ao país. Mas será que realmente precisamos desse tipo de protagonismo? A conquista de um lugar entre os membros permanentes decerto faria bem ao ego de presidentes, ministros e funcionários do Itamaraty. Um cidadão mais afeito a paixões nacionalistas mal-adaptativas também teria motivos para regozijar-se. Mas será que o Brasil, compreendido como o conjunto de seus habitantes, teria algo a ganhar?
Até onde sei, não há correlação causal entre visibilidade na ONU e a conquista de novos mercados, o que seria uma razão econômica para embarcar nesse projeto. Também não vejo como o protagonismo internacional melhoraria as condições de vida da população. Ao contrário, há motivos para crer que uma participação mais ativa nos palcos da geoestratégia exigiria que o país empenhasse recursos, financeiros e humanos, crescentes em missões de paz e intervenções pontuais. Pior, acabaríamos nos envolvendo e tomando parte em problemas talvez insolúveis como as disputas no Oriente Médio.
Na verdade, a obsessão do Itamaraty por uma vaga já fez com que o Brasil, para angariar apoios, assumisse posições moralmente complicadas, que incluem a defesa de algumas das piores ditaduras do planeta.
Não há nada de errado em ser uma nação "low profile". É provável até que essa posição de baixa visibilidade nos poupe de algumas encrencas.
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