O GLOBO - 23/10
Importante será punir os que praticam bandalhas no trânsito
Dois meses depois que foi implantado o programa Lixo Zero, o Rio terá ficado menos sujo? A boa notícia é que parece que sim. Moradores e banhistas da orla da Zona Sul afirmaram ao repórter Luiz Gustavo Schmitt que de fato as calçadas e as praias estão mais limpas, como consequência das multas aplicadas nessa região. No total foram mais de 7 mil pessoas punidas em 21 bairros por jogarem no chão guimbas de cigarro, garrafas e copos de plástico. Depois do Centro, campeão de imundície com quase 3.500 flagrantes, vieram Copacabana (906), Leblon (795) e enfim Ipanema (649), onde não notei muita diferença, mas pode ser que eu não tenha reparado bem. Fazer os sujismundos pagarem é uma boa medida. O carioca, como se sabe, é asseado dentro de casa, mas não fora. A mesma madame que briga com a faxineira por causa do pó deixado sobre a mesa leva o cachorro para fazer cocô na rua. O mesmo motorista que lava o carro todo dia joga papel e casca de banana pela janela. Já contei o diálogo a que assisti no calçadão entre um gari da Comlurb e uma dama malcriada:
— A senhora está sujando o que eu acabei de limpar.
— Eu te pago pra isso.
Pela sua lógica, não só o espaço público era privativo dela como o “empregado” também. Afinal, para isso ela pagava impostos.
Portanto, multar os que emporcalham a cidade é importante. Mais importante, porém, será punir os que praticam bandalhas no trânsito. Aqueles não machucam ninguém, enquanto estes atingem fisicamente as vítimas. Estou falando dos motoristas que avançam sinais e atropelam pessoas, dos ciclistas que andam perigosamente nas calçadas em alta velocidade e dos skatistas e patinadores que invadem as pistas de lazer aos domingos e feriados, ameaçando crianças, idosos e cadeirantes.
As queixas são recíprocas. A culpa é sempre do outro. Ninguém quer reconhecer que carrega uma dose de incivilidade e desrespeito. Os ciclistas reclamam dos motoristas, por tentarem expulsá-los das vias, e também dos pedestres que preferem andar e correr onde não é permitido. Mas eles mesmos não respeitam os sinais de trânsito. Atravesso a ciclovia de Ipanema praticamente todo dia, e nunca vi um desses velocistas sobre duas rodas parar diante do farol vermelho para dar passagem a alguém, mesmo que seja uma babá empurrando um carrinho de bebê.
Para acabar com a bagunça, a Prefeitura promete lançar em dezembro cerca de 100 mil exemplares de um manual de convivência, divulgando as regras e leis que devem ser obedecidas pelos frequentadores da orla, sob pena de terem os equipamentos — bicicletas, patins, skates — apreendidos. No entanto, segundo o secretário de Ordem Pública, Alex Costa, não vai ser possível multá-los, porque a legislação não permite. E esse é o ponto fraco da operação. Conforme afirmou um morador elogiando o resultado do programa Lixo Zero, “é a punição no bolso que ajuda as pessoas a se conscientizarem”. Sem ela, aqui e em qualquer parte do mundo, é difícil educar o trânsito.
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