Ele era um homem fino, mas não era aristocrata e muito menos homossexual
– Mandrake! – O quê? – Mandrake! – O que é isso?
– Você nunca brincou de Mandrake? – Não!
– A gente apontava para uma pessoa, dizia “Mandrake”, e a pessoa tinha que ficar paralisada. Como uma estátua.
– Nunca ouvi falar. – Mandrake era um mágico. Um personagem de gibi.
– De quê? – Gibi. Você também nunca ouviu falar de gibi?
– Nunca.
– Histórias em quadrinhos. Mandrake, o Mágico, combatia o mal com seus truques. Ele estava sempre de fraque e cartola. E tinha um ajudante fortão. Uma espécie de escravo. Como era o nome do ajudante do Mandrake, meu Deus?
– O Mandrake vivia de fraque e cartola e tinha um escravo?
– Não era bem um escravo. Era um companheiro. Chamado, chamado...
– Não sei se eu estou gostando desse personagem. Um aristocrata, com um escravo... Não eram amantes, não?
– Não, não. Naquele tempo não se pensava nisso. Muito mais tarde é que se começou a desconfiar do Batman e do Robin, por exemplo. Que ali tinha coisa. O Mandrake era um homem fino, mas não era um aristocrata e muito menos homosexual. Ele era cerebral, nunca usava a força bruta. O outro é que fazia o trabalho pesado.
– Mas o superpoder do Mandrake era só o de paralisar os outros? Transformá-los em estátuas? E depois mandar o “companheiro”, entre aspas, bater no paralisado?.
– Você pode fazer pouco, mas a verdade é que o Mandrake e o outro eram mais do que apenas heróis de gibi. Simbolizavam a divisão entre mente e corpo, intelecto e energia física, o saber e o fazer, que tem sido uma constante da experiência humana desde o tempo das cavernas. Tinham um significado maior, mesmo para os leitores de gibi. Não eram pura fantasia juvenil, como Namor, o Príncipe Submarino, por exemplo.
– Quem?
– Namor, o príncipe sub... Esquece. Já vi que esta conversa não vai a lugar nenhum. Não há diálogo possível entre uma geração que nunca ouviu falar no Mandrake e a minha.
– Querido, você ficou bravo só porque eu...
– Não fiquei bravo. Só me dei conta que esta nossa relação não tem futuro. Loucura minha, me meter com alguém da sua idade. E não, transformar os outros em estátua não era o único poder do Mandrake. Ele fazia mágicas de todo tipo. Transformava punhais em pássaros em pleno voo. Você sabe o que é isso? Punhais em pássaros!
– Está bem, está bem. Já sou admiradora do Mandrake. Vem até aqui que eu quero lhe dar um beijo. Ou então fique paralisado que eu vou até aí. Mandrake!
– Lothar! – Hein?
– Me lembrei. O nome do ajudante do Mandrake era Lothar.
– Ótimo. Agora vem cá, vem, seu bobo. E me conte tudo sobre esse Nomar, o Príncipe Submarino.
– Namor!
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