O Estado de S.Paulo - 04/08
A presidente Dilma Rousseff parece convencida da eficácia da tese segundo a qual os protestos de junho resultam do êxito de seu governo, por uma exótica interpretação de que os manifestantes, agraciados com as melhorias sociais promovidas, agora querem mais. E que a estagnação do crescimento abaixo de índices razoáveis se deve aos efeitos da crise global. Isto posto, a crise não é de seu governo, embora as pesquisas indiquem o contrário.
É o típico caso em que importa a versão e não os fatos. E, com tal premissa, prossegue transferindo a responsabilidade pela insatisfação do contribuinte às demais instituições igualmente mal avaliadas. Agora, em ritmo de campanha eleitoral, como mostram seus últimos movimentos, do "alto" dos 30% de aprovação que lhe restaram.
O anúncio, ao lado do prefeito Fernando Haddad, de R$ 8 bilhões para melhorias do transporte municipal, simultaneamente ao lançamento do ministro da Saúde para o governo estadual, é um ato eleitoral claríssimo. Ao acrescentar ao discurso a crítica ao sistema estadual de transportes tenta passar a mensagem de que veio resolver aquilo que o governador Geraldo Alckmin não consegue. Campanha explícita.
Vê-se, então, agora, a confirmação de que o programa Mais Médicos, lançado da noite para o dia no surto provocado pelos protestos populares, era matéria ainda incompleta, guardada para dar a largada na candidatura do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ao governo de São Paulo. No calor da batalha, decidiu-se antecipar seu lançamento, sendo impossível disfarçar o improviso da medida, que abriu uma polêmica nacional e impôs recuos ao governo.
Padilha, ao que se sabe, é o candidato preferido do ex-presidente Lula, na mesma linha de aposta em nome ainda não batizado nas urnas, que deu certo com Fernando Haddad, uma vez constatado o tédio do eleitor paulista com o revezamento dos mesmos candidatos de PT e PSDB. O problema é que Padilha não marcou sua gestão no ministério da Saúde por qualquer iniciativa que venha a ser lembrada , o que o liga à ineficiência do setor, líder de queixas na sociedade.
Era preciso, então, criar uma marca para o ministro da Saúde, e o programa tentou atender a essa emergência. A presidente prosseguirá em campanha com inaugurações previstas em sua agenda, em Minas, Paraná e Santa Catarina, além de São Paulo. E investirá na exposição em programas de rádio, televisão e entrevistas com pauta específica, ou seja, dizendo apenas o que lhe interessar.
Com essa estratégia, o governo corre o risco de continuar falando sozinho, num monólogo em que oferece explicações ao invés de resultados.
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