FOLHA DE SP - 04/08
Tive uma experiência paralela de como as coisas se passavam e continuaram a ser nas obras do metrô
A revelação, feita pela Siemens, de um cartel de empresas para corrupção em serviços na obra do metrô paulistano, traz, além de outros possíveis sentimentos, um alívio para muitos. São as pessoas entre as quais é recorrente, há tantos anos, a referência à corrupção nessa obra -sem sequer vislumbre de denúncia ou de investigação dos que deveriam fazê-las.
Vem de longe. Do começo. No remoto e mal esquecido governo de Orestes Quércia, tive uma experiência paralela de como as coisas se passavam e continuaram a ser.
Muito feliz com o que o metrô em São Paulo proporcionava, Quércia quis fazer mais um, este na Campinas de suas origens. À época administrada pelo braço direito de Lula no PT e no sindicalismo, Jacob Bittar, e nem por isso Quércia teve problema. Um acordo resolveu o conveniente. As condições para a obra é que se mostraram problemáticas. Em termos, porque logo foi sugerida a solução do metrô de superfície -de qualquer modo, uma boa obra nos sentidos mais interessantes.
Feita a alegada licitação, a Folha demonstrou a publicação antecipada do seu resultado. Quércia negou o conluio, claro, e ironizou o anúncio classificado com a antecipação. Viria então a ser exibido, pelo governo e pela empreiteira dada como vencedora, um anúncio publicado na própria Folha, com o nome de outra empreiteira, como comprovação de que publiquei diferentes resultados.
Ocorreu-me que talvez houvesse ainda a papeleta de entrada desse anúncio, onde o responsável tivesse deixado alguma indicação sua. A ajuda de meu colega (e amigo) Leão Serva, então na Folha, foi preciosa. Conseguiu encontrar a papeleta. Nela, um nome e telefone.
Demorei muito até conseguir que atendessem a uma das ligações. É que o sujeito do nome e seus companheiros estavam ocupados. Era trabalhador de uma obra. Da empreiteira Mendes Jr.. A mesma que vencera a alegada licitação. A contrarrevelação estava desmoralizada.
Os fatos foram noticiados em pormenores pela Folha. Nenhuma dúvida de pé. Passamos a esperar, apenas, o inquérito, e a consequente anulação da obra, pelo Ministério Público de São Paulo. Os que sobrevivemos ainda, estamos esperando até hoje.
Lula disse à Folha, dias depois, em defesa de Jacob Bittar, que a publicação da fraude "foi feita para prejudicar eleitoralmente o PT". Jacob Bittar não tardou muito a dar as costas a Lula e ao PT, e aderir integral e explicitamente a Quércia, bandeando-se para o PDT. Fui processado por Orestes Quércia, que perdeu em quantas instâncias judiciais desejou.
Toninho Costa Santos, então vice-prefeito petista, foi dado por muitos dos envolvidos, e por muitos outros, como origem da revelação de fraude. Mais tarde eleito prefeito, foi assassinado, sem que a polícia paulista fosse capaz, ou por algum outro motivo, de dizer algo convincente sobre autor ou mandante do crime. Às vezes me ocorre a suspeita de que o íntegro Toninho começou a morrer na época daquela fraude, quando muitos passaram a vê-lo como incorruptível, e portanto perigoso, na sua carreira de ético entre interesses e interessados de todos os tipos.
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