FOLHA DE SP - 15/03
SÃO PAULO - É difícil provar teorias no domínio das ciências sociais. Além de o estatuto epistemológico desse campo do saber ser precário, os resultados de experimentos e análises não colaboram, pintando em geral quadros ambíguos, incompatíveis com conclusões unívocas.
Em raras ocasiões, porém, as forças da história nos brindam com experimentos "naturais" que permitem vislumbrar relações que, de outro modo, permaneceriam invisíveis. Um exemplo eloquente é o das Coreias.
O jovem ditador norte-coreano, Kim Jong-un, acaba de revogar o armistício com o sul. Ele segue o padrão familiar de exibir músculos bélicos para arrancar concessões e algum dinheiro de vizinhos amedrontados e das potências ocidentais. É um governo que vive de chantagem, já que fracassou em todo o resto.
O contraste entre as duas Coreias não poderia ser maior. Ao norte do paralelo 38, temos um dos países mais pobres da Ásia, no qual a população não tem acesso a praticamente nenhuma comodidade da vida moderna, como luz elétrica e telefones, e é assolada por fomes periódicas.
Já no sul, as pessoas vivem com padrões de Primeiro Mundo. A educação é uma das melhores do planeta e o país não cessa de melhorar sua posição em praticamente todos os indicadores de riqueza e bem-estar.
Como explicar tamanha assimetria, já que o povo é o mesmo e os recursos naturais à disposição dos respectivos governos não são tão diferentes? Só o que separa as duas populações é o fato de, a um dado momento da história recente, terem seguido caminhos políticos distintos.
Enquanto o norte fechou-se numa tirania comunista retrógrada, o sul experimentou uma ditadura de direita só um pouco menos brutal, mas que, a certa altura, foi capaz de abrir-se, promovendo reformas democratizantes, a começar pela educação.
Essa é, provavelmente, a melhor demonstração possível de que as instituições fazem toda a diferença.
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