FOLHA DE SP - 15/03
Recuo do PSD na intenção de aderir ao governo Dilma reflete uma superlotação no governismo e a busca de cacife para gastar em 2014
Num movimento um tanto surpreendente, o líder do PSD, Gilberto Kassab, comunicou à presidente Dilma Rousseff que seu partido conservará a independência em relação ao governo federal pelo menos até 2014. Esperava-se, e para logo, o embarque da quarta maior sigla do Congresso na nau governista.
O PSD é o rebento mais recente e caricato da massa amorfa em que se transformou a política nacional. Explorou uma brecha na norma de fidelidade partidária, arrebanhou parlamentares e governantes mal servidos em todo o país e granjeou seu principal ativo: tempo de propaganda eleitoral na TV e no rádio proporcional à bancada na Câmara dos Deputados.
A plataforma do PSD é o governismo, a disposição de servir a qualquer partido no poder, em qualquer esfera, a despeito de ideologia ou rusgas do passado. Não se trata, porém, de uma disposição abstrata. É preciso retribuição.
Eis o ponto no qual, ao que parece, emperraram as negociações com o Planalto. A presidente oferecia um ministério de impacto reduzido, ainda por implantar, dedicado à pequena empresa. Talvez a retribuição fosse pouca para convencer os companheiros do PSD a vestir a camisa oficial da situação. Para traçar uma parábola com a economia nacional, há descompasso entre a oferta finita de ministérios e outras regalias federais, de um lado, e, do outro, a demanda voraz por esses ativos políticos, incrementada pela classe emergente dos governistas do PSD.
Há limites de acomodação partidária até para uma máquina bizantina como a administração federal, com 39 ministérios, 20 mil cargos de confiança, estatais e autarquias espalhadas pelo país.
Não há mais vagas no camarote VIP da administração Rousseff. Talvez por isso surja, de uma parte relegada à periferia do governismo, um protomovimento de oposição à presidente Dilma e ao consórcio PT-PMDB.
Encabeçado pelo PSB do governador Eduardo Campos, um satélite ensaia desgarrar-se do centro de gravidade palaciano. Passa, se não a encorajar atitudes como a ambiguidade de Kassab, pelo menos a valorizar seu passe em negociações futuras com o petismo.
Decerto esse movimento não se atrita apenas com o Planalto. Eduardo Campos já disputa uma raia da competição política, no empresariado e na opinião pública, muito próxima da utilizada pelo PSDB e pelo seu virtual candidato a presidente, o senador Aécio Neves.
A lamentar, apenas o fato de essas disputas de bastidores não se traduzirem num choque transparente de programas para governar e desenvolver o Brasil.
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