O ESTADO DE S. PAULO - 15/03
A inflação aumentou, espalhou-se, ficou mais resistente, chegou a 6,31% nos 12 meses terminados em fevereiro, quase bateu no limite de tolerância e as previsões mais otimistas do Banco Central (BC) foram pelo ralo. Tudo isso - e muito mais - é reconhecido na ata da última reunião do Copom, mas a taxa básica de juros, principal instrumento de combate à alta geral de preços, vai continuar em 7,25% pelo menos até 17 de abril. Até lá, o comitê deverá acompanhar a evolução do cenário econômico para definir seus próximos passos. A resistência a um novo aumento de juros seria menos surpreendente se a ata fosse menos detalhada na descrição dos problemas. Nesse caso, seria possível acusar o BC de irrealismo ou, pior, de tentar esconder os dados mais preocupantes. Mas a história é outra. Os detalhes mais negativos estão lá, bem explicados e bem avaliados nos 76 parágrafos do relatório. Todos os pontos relevantes foram examinados. Só faltaram as conclusões práticas. Teimosia? Nervos de aço? Ou terá faltado a autorização do Planalto para a mexida nos juros?
A última hipótese é bastante plausível, já que o governo insiste em apresentar a redução dos juros, iniciada em 31 de agosto de 2011, como importante conquista política. Desse ponto de vista, a elevação da taxa seria um retrocesso, mas retrocesso maior, e muito mais perigoso, é tratar a política monetária como parte da retórica eleitoral. De toda forma, podem argumentar os economistas do BC, deverá ser possível conter a inflação com juros bem menores que aqueles observados até há dois anos. Com a maior integração financeira, a política monetária tomou-se mais eficiente. Com isso, a taxa neutra - aquela suficiente para estabilizar os preços - deve ser hoje mais baixa do que foi recentemente. O argumento é plausível, mas a taxa necessária, neste momento, é decerto maior que os 7,25% em vigor.
A ata fornece razões mais que suficientes a favor desse ponto de vista. Para começar, o texto contém pelo menos 11 referências à piora da inflação, com expressões como "mais alta", "mais elevada", "aumento", "resistente" e "dispersão". Em várias passagens, o documento reproduz comentários há muito tempo repetidos por analistas e em geral desprezados em relatórios oficiais.
Merece atenção especial a referência ao índice de difusão, usado por economistas para medir a contaminação dos preços. Esse indicador mostra a porcentagem de itens com elevação de preços em um dado período. Há muito tempo esse número tem oscilado entre 65% e 70% e recentemente passou de 70%. Em outras palavras, os aumentos são espalhados e isso contraria a tese, teimosamente sustentada no discurso oficial, de uma inflação quase restrita ao mercado de alimentos. A referência à dispersão dos aumentos é especialmente importante, porque envolve, apesar de alguma ressalva, o reconhecimento da inflação como um problema bem mais amplo do que em geral se admitia. Além disso, a dispersão, somada a pressões sazonais, contribui para tornar a inflação resistente. Essa "dinâmica desfavorável", segundo a ata, pode ser, mais que um fenômeno temporário, uma "acomodação da inflação em patamar mais elevado". Apesar disso, o comitê recomenda uma política administrada com cautela.
A ata repete velhas advertências sobre a "estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho" e sobre o risco de aumentos salariais incompatíveis com o crescimento da produtividade. O texto menciona a política fiscal expansionista, repetindo um alerta já incluído em análise anterior. Ainda assim o Copom reafirma a sua crença em um resultado fiscal de acordo com a meta. A austeridade foi uma da condições apontadas em 2011 para o êxito da redução de juros. Essa expectativa jamais foi confirmada na prática. Mas o Copom insiste em demonstrar sua fé, embora se permita, há algum tempo, citar o expansionismo das contas públicas.
Enfim, a ata menciona o baixo crescimento da produção. Mas isso, ressalva o Copom, é um problema de oferta, fora do alcance da política monetária. Isso têm dito, há muito tempo, os críticos da política econômica.
A última hipótese é bastante plausível, já que o governo insiste em apresentar a redução dos juros, iniciada em 31 de agosto de 2011, como importante conquista política. Desse ponto de vista, a elevação da taxa seria um retrocesso, mas retrocesso maior, e muito mais perigoso, é tratar a política monetária como parte da retórica eleitoral. De toda forma, podem argumentar os economistas do BC, deverá ser possível conter a inflação com juros bem menores que aqueles observados até há dois anos. Com a maior integração financeira, a política monetária tomou-se mais eficiente. Com isso, a taxa neutra - aquela suficiente para estabilizar os preços - deve ser hoje mais baixa do que foi recentemente. O argumento é plausível, mas a taxa necessária, neste momento, é decerto maior que os 7,25% em vigor.
A ata fornece razões mais que suficientes a favor desse ponto de vista. Para começar, o texto contém pelo menos 11 referências à piora da inflação, com expressões como "mais alta", "mais elevada", "aumento", "resistente" e "dispersão". Em várias passagens, o documento reproduz comentários há muito tempo repetidos por analistas e em geral desprezados em relatórios oficiais.
Merece atenção especial a referência ao índice de difusão, usado por economistas para medir a contaminação dos preços. Esse indicador mostra a porcentagem de itens com elevação de preços em um dado período. Há muito tempo esse número tem oscilado entre 65% e 70% e recentemente passou de 70%. Em outras palavras, os aumentos são espalhados e isso contraria a tese, teimosamente sustentada no discurso oficial, de uma inflação quase restrita ao mercado de alimentos. A referência à dispersão dos aumentos é especialmente importante, porque envolve, apesar de alguma ressalva, o reconhecimento da inflação como um problema bem mais amplo do que em geral se admitia. Além disso, a dispersão, somada a pressões sazonais, contribui para tornar a inflação resistente. Essa "dinâmica desfavorável", segundo a ata, pode ser, mais que um fenômeno temporário, uma "acomodação da inflação em patamar mais elevado". Apesar disso, o comitê recomenda uma política administrada com cautela.
A ata repete velhas advertências sobre a "estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho" e sobre o risco de aumentos salariais incompatíveis com o crescimento da produtividade. O texto menciona a política fiscal expansionista, repetindo um alerta já incluído em análise anterior. Ainda assim o Copom reafirma a sua crença em um resultado fiscal de acordo com a meta. A austeridade foi uma da condições apontadas em 2011 para o êxito da redução de juros. Essa expectativa jamais foi confirmada na prática. Mas o Copom insiste em demonstrar sua fé, embora se permita, há algum tempo, citar o expansionismo das contas públicas.
Enfim, a ata menciona o baixo crescimento da produção. Mas isso, ressalva o Copom, é um problema de oferta, fora do alcance da política monetária. Isso têm dito, há muito tempo, os críticos da política econômica.
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