O GLOBO - 15/03
Na história dos ditadores latino-americanos, predominam os militares, por razão óbvia: eles têm os tanques e os canhões. Seria injusto, no entanto, deixar de lembrar os casos em que os generais voltaram para os quartéis voluntariamente. Mas não foi assim com o venezuelano Hugo Chávez, pelo menos no início de sua busca de poder. Chefiando um golpe militar, em 1992, tentou e não conseguiu derrubar o presidente civil Andrés Pérez e ele foi preso.
Mas, curiosamente, o golpe fracassado transformou Chávez num líder popular: seis anos depois, em 1998, ele foi eleito presidente. A gangorra voltou a funcionar: os já citados militares o derrubaram em 2002. Mas, dois dias depois, outros militares lhe devolveram a Presidência. E não foi o fim da novela: em junho do mesmo ano, a Justiça Eleitoral atendeu a um manifesto com mais de dois milhões de assinaturas e convocou um referendo popular que devolveu o mandato a Chávez.
Ele ainda se reelegeria mais uma vez, e também saiu ganhando num referendo que aprovava a reeleição ilimitada do presidente. Em seu governo, segundo a Cepal (instituição confiável), em 12 anos o número de venezuelanos pobres caiu de 49% para 27%. Mesmo que o petróleo estivesse jorrando nas torneiras das cozinhas de Caracas, é preciso reconhecer que o governo tinha algum mérito nisso. Até os demagogos mais sem vergonha precisam mostrar serviço em alguma área, de vez em quando. E Chávez certamente era um craque em demagogia.
Mas não são virtudes e defeitos do presidente morto que têm qualquer interesse agora para os venezuelanos. Políticos com o perfil do falecido raramente se preocupam em preparar herdeiros, exceto quando têm filhotes interessados, o que não é o caso na Venezuela. A oposição alimenta, naturalmente, as suas ambições. Mas enfrenta um adversário quase sempre invencível: o fantasma de Chávez. Como se sabe, falecidos raramente erram - e os erros que cometeram em vida são rapidamente sepultados.
Disse um sociólogo e professor universitário em Caracas, Tulio Hernández, que está nascendo no país um novo populismo, centrado na imagem de Chávez. E esta só tende a se fortificar. Além disso, começam a circular boatos de que ele teria sido envenenado. E outros: segundo o mais curioso deles, o presidente morreu porque teria comido restos mortais de Simón Bolívar, para ser o novo "Libertador". Não foi explicado onde foram conseguidos pedaços do falecido.
Para complicar as coisas, já há três candidatos disputando a herança política do falecido. Um deles é o vice-presidente Nicolás Maduro; outro é o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello; o terceiro, Henrique Capriles, principal líder da oposição. Ele teve votação considerável nas eleições do ano passado contra Chávez - mas, como se sabe, enfrenta um desafio que costuma ser muito difícil: não é nada fácil falar mal de quem já morreu. Principalmente no caso de falecidos recentes.
Mas, curiosamente, o golpe fracassado transformou Chávez num líder popular: seis anos depois, em 1998, ele foi eleito presidente. A gangorra voltou a funcionar: os já citados militares o derrubaram em 2002. Mas, dois dias depois, outros militares lhe devolveram a Presidência. E não foi o fim da novela: em junho do mesmo ano, a Justiça Eleitoral atendeu a um manifesto com mais de dois milhões de assinaturas e convocou um referendo popular que devolveu o mandato a Chávez.
Ele ainda se reelegeria mais uma vez, e também saiu ganhando num referendo que aprovava a reeleição ilimitada do presidente. Em seu governo, segundo a Cepal (instituição confiável), em 12 anos o número de venezuelanos pobres caiu de 49% para 27%. Mesmo que o petróleo estivesse jorrando nas torneiras das cozinhas de Caracas, é preciso reconhecer que o governo tinha algum mérito nisso. Até os demagogos mais sem vergonha precisam mostrar serviço em alguma área, de vez em quando. E Chávez certamente era um craque em demagogia.
Mas não são virtudes e defeitos do presidente morto que têm qualquer interesse agora para os venezuelanos. Políticos com o perfil do falecido raramente se preocupam em preparar herdeiros, exceto quando têm filhotes interessados, o que não é o caso na Venezuela. A oposição alimenta, naturalmente, as suas ambições. Mas enfrenta um adversário quase sempre invencível: o fantasma de Chávez. Como se sabe, falecidos raramente erram - e os erros que cometeram em vida são rapidamente sepultados.
Disse um sociólogo e professor universitário em Caracas, Tulio Hernández, que está nascendo no país um novo populismo, centrado na imagem de Chávez. E esta só tende a se fortificar. Além disso, começam a circular boatos de que ele teria sido envenenado. E outros: segundo o mais curioso deles, o presidente morreu porque teria comido restos mortais de Simón Bolívar, para ser o novo "Libertador". Não foi explicado onde foram conseguidos pedaços do falecido.
Para complicar as coisas, já há três candidatos disputando a herança política do falecido. Um deles é o vice-presidente Nicolás Maduro; outro é o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello; o terceiro, Henrique Capriles, principal líder da oposição. Ele teve votação considerável nas eleições do ano passado contra Chávez - mas, como se sabe, enfrenta um desafio que costuma ser muito difícil: não é nada fácil falar mal de quem já morreu. Principalmente no caso de falecidos recentes.
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