FOLHA DE SP - 01/09
Mesmo depois de muita injeção de vitamina com efeitos colaterais, PIB cresce a 2% ao ano
AS PREVISÕES para o crescimento da economia no segundo trimestre eram tão furadas que a gente fica tentada a imaginar que o andar da carruagem do PIB possa ser mais veloz daqui em diante.
A tentação da esperança sempre é grande, se não humanamente vulgar, ainda mais quando a turma dita pessimista dá uma bola tão fora, quando a gente é obrigada a relembrar que estatísticas econômicas são um gênero tedioso de ficção científica, segundo a "boutade" de Paul Krugman, Nobel de Economia.
Se os economistas "do mercado", bastião do pessimismo, erraram tanto quanto ao segundo trimestre, erro de 50%, na média, o resto do ano pode até ser bom.
Só que não.
Nem deve ser bom, nem é bem esse o problema dos ditos pessimistas ponderados.
Para começo de conversa, convém considerar em que pé estamos.
Em 12 meses (até junho), o Brasil cresceu 1,9%. É ruim, mas era pior no ano passado. Em junho de 2012, crescêramos 0,9% (em 12 meses).
Mesmo que a economia fique estagnada até o final do ano, o Brasil terá crescido então 2,5% em 2013, graças a mumunhas da estatística do PIB. Está frio ou está quente?
O problema mais imediato é que foi preciso muito santo para pouco milagre, muito estímulo econômico para um resultado miudinho, de resto com efeitos colaterais.
A taxa de juros real caiu de 4,5% ao ano no início de 2012 para 1,8% ao ano na média de julho e para 1,5% em dezembro (agora, está em 3,8% e subindo. Acabou o refresco).
A poupança do governo (receita menos despesa, desconsiderados gastos com juros) caiu de 3,1% do PIB em dezembro de 2011 para 1,9% em julho deste ano, para usar a conta simplezinha. É contraproducente estropiar ainda mais as contas públicas (nem é plano do governo fazê-lo em 2014).
O governo fez dívida para colocar dezenas de bilhões de reais nos bancos públicos a fim de vitaminar o crédito, ritmo de crescimento que não vai se repetir. O BNDES empresta dinheiro a juro real zero.
Ainda assim, estamos crescendo a 2% para 2,5% ao ano, com inflação rondando os 6%. Não é mais possível usar tanto anabolizante.
De resto, temos problemas novos, como o risco de o dólar engordar a inflação e a alta de juros nos EUA.
Há quem imagine que o governo não usou anabolizantes, mas fortificantes. A economia teria padecido apenas de fraqueza momentânea; não sofreria de problemas crônicos como falta de produtividade, mão de obra escassa, infraestrutura precária, burocracia idiótica, falta de investimento público etc.
O pessimista ponderado acredita que a economia tem problemas ora crônicos: precisa de tratamentos complicados, embora viáveis, não de Biotônico Fontoura.
O pessimista ponderado não imagina que veremos recessões à moda dos anos 1980 ou 1990, nem quebras operísticas, daquelas de irmos ao FMI. Nem acredita que o país pudesse ter crescido muito mais do que o fez nestes anos Dilma Rousseff. A terapia, digamos, teria exigido repouso. Mas estaríamos prontos para andar um pouco mais rápido em 2014.
O pessimista ponderado se exaspera com a ideia de que, no ritmo atual, o Brasil vai levar uns 50 anos para chegar ao nível de renda de um país como Portugal.
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