O Estado de S.Paulo - 01/09
Com base no crescimento surpreendente do PIB no segundo trimestre, alguns entenderam que esse desempenho será fator de recuperação de confiança na economia, o que, por sua vez, atuará como determinante na melhora dos resultados. O que importa é saber até que ponto dá para contar com um avanço econômico sustentável superior a 3% ao ano.
Na última quinta-feira, um dos mais importantes empresários deste país, o gaúcho Jorge Gerdau, presidente da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, observou que dificilmente o Brasil conseguirá apresentar crescimento econômico médio superior a 2% ao ano. Ele lembrou de estudos do Banco Mundial que convergem para a conclusão de que "países que investem menos de 20% de seu PIB não crescem mais do que 2,5% ao ano".
Como está no gráfico, a participação do investimento no PIB total não passa de 18,6%, incluída aí a contribuição dos estrangeiros. Nos últimos anos, o maior peso do investimento aconteceu no segundo trimestre de 2004, quando alcançou 20,6% do PIB.
A baixa participação do investimento é, por sua vez, consequência do baixo nível de poupança (16,6%) na renda nacional. Não cabe o argumento de que essa relação é inevitável em países em desenvolvimento, na medida em que a população acaba por viver da mão para a boca. Este é, mais que tudo, um dado cultural. Embora constituído de países pobres, o padrão asiático é de poupança acima de 30% do PIB. O recorde pertence à China, que poupa nada menos que 51% da renda nacional.
No Brasil, esse fator cultural que empurra para o consumo foi acentuado nos últimos dois anos por opção de política econômica que relegou o investimento ao deus-dará. Partiu do ponto de vista equivocado de que bastaria estimular o consumo para que o investimento viesse atrás, como as pombas em direção ao punhado de quirera de milho. Logo se viu que o consumo disparou, mas a oferta não acompanhou porque, prostrado pelos altos custos, o setor produtivo nacional não conseguiu competir com o produto importado.
O governo Dilma acordou para a necessidade do investimento. Embora deva ajudar a empurrar o PIB, investimento leva tempo para transformar mais demanda em mais produção. Ao ritmo Brasil, uma linha de metrô, por exemplo, leva mais de dez anos para ir do projeto à inauguração.
O baixo nível de poupança e de investimento não é o único limitador do crescimento potencial do Brasil. Contribuem também para isso o mercado de trabalho excessivamente aquecido (situação de pleno emprego); a precariedade da infraestrutura, que é consequência do baixo investimento; e o já mencionado alto custo Brasil, que tira competitividade do setor produtivo.
A inflação (imposto inflacionário) é também obstáculo na medida em que reduz a capacidade de consumo e de investimento. Mas isso já tem a ver com as escolhas equivocadas de política econômica que não garantem o nível necessário de saúde fiscal e contribuem para acentuar o desânimo.
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