FOLHA DE SP - 01/09
Neste setembro completam-se cinco anos da eclosão da crise que afetou o Brasil e o mundo após a quebra do banco americano Lehman Brothers.
As raízes da crise foram plantadas no final dos anos 1990, quando o governo americano editou normas direcionando empréstimos bancários a populações de baixa renda.
Diante das preocupações do sistema financeiro com esse risco maior, o risco "subprime", o governo aumentou a atuação de entidades semigovernamentais (Fannie Mae e Freddie Mac), que compraram títulos lastreados em empréstimos imobiliários para tipos de tomadores de crédito e em volumes muito mais amplos do que no projeto original. O programa teve ainda incentivos fiscais e foi importante alavanca do crédito e da atividade econômica.
Parecia um processo sem custo e risco. A participação das entidades semioficiais era vista como garantia do governo, embora as operações não fossem computadas na dívida pública nem nas contas do Tesouro.
O crédito e o preço dos imóveis que serviam de garantia dos empréstimos aumentaram, atraindo investidores. O setor tornou-se um grande negócio, e os bancos criaram empresas especiais para explorá-lo. Como elas não faziam parte das instituições financeiras, os riscos não constavam de seus balanços, gerando crescente descontrole e assunção de risco pelo sistema.
Quando se esgotou a capacidade de endividamento do consumidor, principalmente o tomador de crédito imobiliário, o ciclo foi revertido, os preços dos imóveis caíram, a inadimplência explodiu assim como os prejuízos de investidores e bancos. A perda de capital forçou as instituições a cortarem o crédito, transmitindo a crise para empresas e indivíduos e iniciando a espiral de contração econômica.
O governo foi forçado a intervir. Absorveu as perdas de Fannie Mae e Freddie Mac, eliminando a criatividade contábil na gênese da crise, e saneou o sistema bancário, com custos enormes.
Para alguns setores no Brasil, a crise foi fruto exclusivo da liberdade excessiva dos mercados, e sua maior lição é que caberia aos governos não só controlá-los como também direcioná-los.
Mas países mais afetados pela crise tiraram outra lição: os governos não devem intervir nem direcionar e incentivar créditos segundo políticas públicas, pois isso pode causar grandes distorções nos mercados. Por outro lado, as autoridades passaram a exigir capitalização e padrões de risco que garantam a saúde das instituições.
É fundamental entender as raízes e lições da crise para evitar processo similar no Brasil. Ao tentar prevenir ou remediar problemas, pode-se acabar criando-os novos e maiores.
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