O Estado de S.Paulo - 21/07
A recente pesquisa Ibope/Estadão, confirmando a estagnação na casa dos 30% dos índices de aprovação da presidente Dilma Rousseff, indica a dificuldade de recuperação do governo após os protestos de rua, principalmente por já incluir as primeiras reações do Planalto às manifestações.
E, ainda que não represente diagnóstico definitivo, revela o imobilismo do governo ante a crise econômica e política.
É a terceira consulta desde a eclosão das manifestações populares e, por mais cautela que se aplique a avaliações de momento, a conduta errática do governo alimenta a percepção de desorientação e não cria expectativas favoráveis de reversão em curto prazo.
Leilões de rodovias e terminais portuários, licitações internacionais de petróleo e do trem-bala e entrega de moradias populares, com as quais acena o Planalto, não comovem por já integrarem a pauta original do governo, além de configurarem meras promessas de melhoria.
Não haveria, em princípio, razões para se duvidar da capacidade do governo em resgatar parte do patrimônio eleitoral perdido, dada a condição natural do poder que detém para produzir fatos positivos, influenciar o noticiário e orientar a relação com seus parceiros políticos.
No entanto, o caminho escolhido até agora não é o que leva a essa possibilidade. O governo parece decidido a insistir na linha de propostas controversas, de alto teor polêmico, das quais são exemplos o plebiscito imediato da reforma política e a reforma na área da medicina, ambas conduzidas de forma unilateral, em guerra aberta com o Legislativo e as corporações médicas.
A mesma linha impositiva, agora já sem o respaldo político que os altos índices de aprovação antes permitiam, é aplicada ao Congresso Nacional, provocando mais reação na própria base aliada do que na oposição.
Parte disso se explica pela antecipação da campanha eleitoral de 2014, que acirrou o conflito entre os dois maiores partidos de sustentação do governo, mas a própria iniciativa de se lançar à reeleição dois anos antes já revelava a fragilidade da candidatura Dilma dentro do próprio PT, que ensaiava o movimento pela volta do ex-presidente Lula.
O mesmo PT que agora se ressente com a ausência da presidente na reunião de seu diretório nacional, conflagrado por uma crise sem precedentes no partido, dividido pela proposta de "plebiscito já", como revela a deposição do deputado Cândido Vaccarezza (SP) da condução do projeto de reforma.
O PMDB, por seu turno, faz uso pleno e intenso do comando das duas Casas do Congresso para impor à presidente e ao rival, PT, suas condições para garantir a estabilidade do governo.
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