GAZETA DO POVO - PR - 21/07
É urgente que se apliquem políticas de valorização dos educadores, sob risco de um apagão no sistema de ensino
Os universitários brasileiros não querem trabalhar na sala de aula. Pesquisa após pesquisa – como a realizada anos atrás pela Fundação Carlos Chagas –, o veredicto se confirma, acenando uma das mais graves crises do país. Parem o bonde. Sem professores das disciplinas do ciclo fundamental e médio, não veremos país nenhum. Estima-se que a carência possa chegar a 300 mil educadores, o que deixa o sistema de ensino nas raias de um apagão.
As regiões mais afetadas pela ausência de mestres encontram dificuldades homéricas, como se dizia, para vencer a pobreza e ficam mais expostas às raízes da violência. De resto, o atraso e a treva, na qual estamos nos movendo faz algum tempo. Só sobra uma saída – políticas públicas que atraiam alunos para as licenciaturas, programas de permanência, estágios remunerados por tempo determinado em sala de aula, de preferência no interior do país.
Não se fala aqui em obrigatoriedade ou em qualquer sorte de residência compulsória, como tenta fazer o governo federal em relação aos alunos de Medicina. Fala-se numa tática de valorização do professor, uma bandeira já hasteada aqui e ali, mas cujo discurso, de tão repetido, está pálido como um soneto. Os Programas Institucionais de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibids) ajudam, mas se está falando de uma situação de emergência. É preciso mais.
Há exemplos nos quais nos mirar. Países nórdicos, por exemplo, conhecidos pela relevância dada à função de ensinar. Ou mesmo a alquebrada Cuba. A valorização – com todo o respeito aos que proclamam que o problema dos professores passa, acima de tudo, pelo bolso – supera todas as outras causas. São muitas as categorias mal remuneradas, mas nem todas mal amadas. O desapreço por quem ensina é vexame em par.
A pressão salarial, a ação sindical, a negociação estão aí para resolver impasses de categoria. Vencer uma cultura de menosprezo, contudo, exige mais estratégia dos governos. Passa pelo salário, mas passa também pelas regras de atração. É preciso levar os melhores alunos – e não importa se cursem licenciaturas ou não – para as salas de aula. Igualmente, deve-se levar os melhores professores para as escolas mais problemáticas e de Ideb mais baixo, valorizando o conhecimento adquirido desses profissionais na resolução dos nossos índices educacionais subsaarianos.
É tarefa de casa ver e rever o documentário Pro dia nascer feliz, do cineasta João Jardim. Resumo da ópera. Nas sequências se pode ver uma legião de professores cansados de guerra, com dificuldades de serem ouvidos. Os professores derrubados pela síndrome de Burnout. Os professores que faltam às aulas, deixando às moscas o processo de ensino-aprendizagem. Mas sobretudo os professores que não sabem o que fazer porque se sentem vozes que clamam no deserto. Não há pior expediente profissional que o de não ser ouvido e o de não se sentir parte de nada. Quem está numa escola, por incrível que pareça, sabe do que se trata.
Urge, de fato, uma reforma educacional brasileira. Motivos para tanto não faltam – da ausência de professores ao fato, denunciado pela Fundação Ioschpe, de que há mais pessoas trabalhando na burocracia escolar do setor público do que propriamente ensinando. Dos 5 milhões de educadores contratados, 3 milhões não lecionam. Toda essa multidão de profissionais de gabinete não consegue o que lhes caberia de fato: subsidiar o professor a lidar com a violência, com a indisciplina, com os novos conteúdos e demandas da juventude. O resultado dessa falta de respostas é a frustração profunda, que só pode resultar em desejo de pular do barco.
Como se vê nos dados do Instituto Lobo, a partir do Censo Escolar, muitos o fazem antes mesmo de se graduar. A evasão nas licenciaturas, na média brasileira, chega a 48%. Em áreas como Física, podem alcançar 60%. Deve-se aventar também que carreiras como Física, Química ou Letras se tornaram menos concorridas, o que afeta a seleção. Mas não são fáceis. Muitos alegam desistir por causa do mercado, mas são favas contadas que muitos o fazem por não conseguir acompanhar o curso.
Vale mais um alerta. Parte do problema da evasão de alunos das licenciaturas começa dentro das próprias universidades. É assunto espinhoso. Os cursos que formam professores não raro funcionam como redomas, pouco afáveis a pesquisas que contemplem, de forma mais pragmática, os problemas reais da escola. Não são questões menores, como se pode alegar. O preço é que muitos licenciados acabam chegando ao chão de fábrica despreparados ou desmotivados para lidar com situações que vão além da teoria.
Um comentário:
Não entendo essa preocupação, pois já tivemos um presidente analfabeto que se vangloria de não precisar ler, e isso somado a recentes pesquisas que o querem de volta. É sinal que a maioria tá nem aí para educação, e como somos uma democracia, vale o voto da maioria. Os descontentes calem-se.
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