Se arrependimento matasse haveria poucos petistas vivos para contar a história do acordo de rodízio para a ocupação da presidência da Câmara firmado entre PT e PMDB, sem a inclusão do Senado no contrato.
Como o PT reivindicou a primazia, presidiu a Câmara nos dois primeiros anos do governo, deixando para o PMDB o comando no período final que coincide com a sucessão presidencial e agora também com a queda livre de Dilma Rousseff nas pesquisas.
No Senado, em lugar da alternância valeu o critério convencional da prioridade à maior bancada. Justamente o PMDB, que ficou com o comando das duas Casas, dois postos na linha sucessória da Presidência da República e o controle total do processo legislativo conduzido por um grupo chamado sem cerimônia de “camarilha”: Renan Calheiros, Gim Argello, Eunício Oliveira, Romero Jucá, Eduardo Braga, José Sarney e Vital do Rego.
Na Câmara, o espetáculo é comandado por Henrique Eduardo Alves em sintonia fina com o líder do PMDB, Eduardo Cunha, e a gentil colaboração de parte da bancada do PT.
Com isso e mais a vice-presidência, não admira que os pemedebistas proponham redução drástica de ministérios e desdenhem das seis pastas que ocupam e nas quais não mandam de verdade. Já têm poder que não acaba mais.
Essa correlação de forças faz o governo refém do PMDB e deixa parlamentares do PT queixosos de serem alijados pelo Planalto, obrigado a ceder os anéis ao parceiro de aliança.
Temerosos de perder também os dedos – vale dizer, a condição de renovarem seus mandatos – senadores petistas articulam um movimento de aproximação com os chamados independentes da base, os integrantes do “PMDB do bem” (Jarbas Vasconcelos, Pedro Simon e companhia) e até parlamentares do PSDB para confrontar a “camarilha”.
Buscam um reequilíbrio, mas pode ser tarde depois de terem menosprezado o potencial de dano que representava a concentração de poder nas mãos do PMDB, apoiado a volta de Renan Calheiros ao comando do Senado, dado apoio a ele quando foi obrigado a renunciar à presidência em meio a denúncias, dado sustentação a Sarney na época do escândalo dos atos secretos, nepotismo e outras peripécias.
Hoje confessam: “Os caras são profissionais”. E constatam: “Querem sugar o governo ao máximo e se a reeleição estiver ameaçada, nos jogar fora”.
Fava contada. A saída de José Serra do PSDB é tida no partido como inevitável. Não que ele tenha comunicado a alguém essa decisão, mas a conclusão parte de um raciocínio lógico: sem espaço no partido para ser candidato à Presidência da República, Serra não teria nada a ganhar ficando nem nada a perder saindo.
Nessa altura da vida não seria candidato a deputado federal para ajudar o PSDB a aumentar a bancada na Câmara, conforme uma das hipóteses correntes, e passar quatro anos sendo mais um dentro de um Parlamento desqualificado. Este mesmo critério vale para a possibilidade de se candidatar a senador.
A candidatura presidencial de Aécio Neves está consolidada, salvo algum tipo de imprevisto muito improvável de acontecer até o início de outubro, data limite para troca de partido. Ao governo de São Paulo, o espaço está ocupado por Geraldo Alckmin, que tentará a reeleição.
Diante desse cenário, concluem políticos próximos a José Serra, a filiação ao PPS seria a opção. Não havendo remédio, os tucanos analisam que a saída não pode ser vista como uma “tragédia”.
Embora uma possível candidatura presidencial de Serra represente um risco. Se de um lado ajuda a levar a eleição para o segundo turno, de outro divide o eleitorado tucano e poder deixar tanto Serra quanto Aécio fora da disputa final. A julgar.
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