ESTADÃO - 21/07
De todos os lados e direções a falta de confiança na gestão do País é apontada como a causa maior da degeneração fiscal, da paralisação dos investimentos, do crescimento econômico ridículo, da inflação elevada e do agravamento das contas externas. O diagnóstico é unânime para quem acompanha a economia de perto, incluindo até o Banco Central que, na última Ata do Copom, foi contundente ao afirmar que a recuperação da economia depende da reversão da confiança de empresas e famílias.
Entendem-se as razões de Dilma e do ministro Guido Mantega ao negarem tal diagnóstico e pintarem um quadro econômico cor-de-rosa, como fez a presidente na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Mas é preciso moderar a tinta, reconhecer erros e corrigi-los - o ufanismo dos dois tem contribuído mais para engrossar o bloco dos descrentes do que convencer indecisos. Prova disso é a vertiginosa queda de popularidade da presidente.
Reverter a crise de confiança implicaria o governo tomar duas importantes decisões na política fiscal, hoje o setor politicamente mais crítico e frágil da economia, que não aparece com clareza nos cartazes de cartolina nas ruas, mas está implícito em frases que reclamam qualidade e eficiência em serviços públicos. Uma reforma administrativa com drástica redução de ministérios e um programa gradual de cortes de gastos até chegar ao déficit nominal zero - só o anúncio da real disposição do governo de cumprir essas duas metas já contribuiria para começar a recuperar a confiança. Com a vantagem de estimular não só investimentos, mas também o otimismo dos eleitores.
A população parece estar acordando para uma realidade que desde sempre os políticos escondem: o Estado é balofo não para servir bem à população, mas para ser ocupado por uma classe política faminta de poder, benesses e privilégios. Que o digam os aviões da FAB a serviço de deputados, senadores, ministros, parentes e amigos em busca de lazer Brasil afora. E os atalhos e manobras para desviar dinheiro público para corrupção e campanhas eleitorais, enquanto há violência nas cidades, hospitais desaparelhados, escolas onde as crianças aprendem a soletrar sem entender o que leem e a saúde da maioria da população pobre é ameaçada pela falta de esgoto e água tratada.
São essas as áreas em que o Estado deve concentrar gastos, energia e investimento. Não é com os ministérios que Lula e Dilma criaram para acomodar partidos políticos que não passam de departamentos de outros ministérios que ela vai cumprir o slogan de seu governo "País rico é país sem pobreza" nem as promessas de erradicar a miséria e a pobreza extrema.
Em 18/7 a Folha de S.Paulo publicou entrevista do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, propondo o corte de 14 ministérios já em agosto. Surpreende por partir de um dirigente do partido campeão em fisiologismo e apego ao poder, o PMDB. E como acreditar na seriedade da proposta. se seu autor é o mesmo que desperdiça dinheiro público em passeio com amigos em avião da FAB para se divertir num jogo de futebol e gasta R$ 28,4 mil (R$ 355 por pessoa) em sofisticado jantar com 80 correligionários do partido? É preciso reduzir ministérios, sim, mas com o cuidado de não cair em pegadinhas de políticos que escondem alguma intenção. E não basta reduzir ministérios: é preciso cortar as despesas que eles representam e tirar da gestão políticos corruptos que estão no governo para fazer caixa para seus partidos.
Se não está, a presidente deveria estar hoje arrependida de ter vetado um programa de corte de despesas até chegar ao déficit nominal zero arquitetado pelos ministros Antonio Palocci e Paulo Bernardo, em 2005. Se concordasse com a ideia, hoje estaria com sobra de dinheiro para melhorar a qualidade de serviços públicos e dar respostas consistentes às ruas. Só que Dilma já avisou que não fará nada disso. Prefere entregar aos eleitores mais uma taxa de crescimento medíocre em 2014.
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