domingo, dezembro 16, 2012
Há risco de se repetir o 0,6% - ALBERTO TAMER
O Estado de S.Paulo - 16/12
O PIB de 0,6% no terceiro trimestre indicando um crescimento este ano que pode ficar em apenas 1% ou, como admite um número cada vez maior de analistas, 0,8%, surpreendeu Brasília e o mercado. Todas as estimativas eram de quase o dobro. O que mais preocupa, porém, não é o que aconteceu no terceiro trimestre, mas o que está ocorrendo neste último, que deve terminar (de novo de acordo com previsões do mercado) em 0,8%. Quase todas as análises feitas por instituições financeiras e economistas reduziram o potencial de crescimento do País em 2013 para algo em torno de 3,2%, embora o governo continue projetando 4%, mesmo porque vai ampliar os incentivos à industria e à produção.
Mas será preciso inovar muito, porque o setor privado não reagiu aos estímulos oferecidos e a cena pode se repetir no primeiro trimestre de 2013. Não adianta continuar repetindo que a economia está reagindo. Não cresceu e 0,6% pode ser considerado estagnação.
Caminhos. Não há muito mais a fazer em relação ao fornecimento da demanda interna, que se mantém elevada com a própria dinâmica salarial, emprego e renda, não se pode contar com o comércio exterior, que vacila no mundo e no Brasil se concentra nas commodities. O caminho, diz o diagnóstico do governo, é a indústria. Ela precisa ter condições para produzir mais, e não produz - nem investe - dizem a CNI e a Fiesp, porque a maior parte do aumento do consumo interno é atendida pelas importações que continuam entrando a preços menores. Um fato antigo provocado, principalmente, pela taxa de câmbio que encarece exportações e favorece importações. Tudo isso e mais o clima mundial de incerteza, leva os empresários a rever planos e esperar. E está aí o PIB de 0,6% que, se teme, pode ter vindo para ficar por algum tempo.
É o câmbio. Nesse cenário, surgiram dentro do governo pressões para uma nova política cambial voltada para proteger a indústria da competição externa. No fundo, seria agir como eles agem, desvalorizam suas moedas para exportar mais e sustentar seu crescimento. Nós estamos - ou estávamos? - até agora fazendo o contrário. O ministro Guido Mantega afirma que o dólar a R$ 2 veio para ficar, a indústria diz que é pouco, precisa mais porque além do câmbio, seus competidores externos têm custos menores e subsidiam a produção. E os 0,6% lhes daria razão. O Banco Central está sendo estimulado a ser mais agressivo na desvalorização do real, algo apontado como imprescindível para a indústria, retraída há muito tempo, voltar a crescer.
Depois de alguns dias de indefinição com diretores do banco dando sinais diferentes - para uns há espaço para desvalorizar; para outros, não -, o presidente do BC deu o toque final. Não há um valor fixo, uma das missões do banco é manter a estabilidade da moeda e cooperar com crescimento equilibrado da economia com juros que estimulem a atividade econômica e liquidez no sistema financeiro. E vem fazendo isso até agora, mas a economia não reagiu e há pressões para que ajude mais o governo, fazendo mais.
Cautela. Tudo bem, mas o presidente do BC, Alexandre Tombini, em depoimento em comissão da Câmara, alertou para os riscos que um câmbio mais favorável acabe por importar inflação, já que afetaria os preços em reais dos produtos externos. Hoje, a inflação está em parte sendo contida pelo câmbio, pela importações mais baratas.
E ele levantou um ponto delicado da política cambial do qual até agora ninguém falou: o câmbio real, descontada a inflação. Estão vinculados. Pode-se correr o risco de obter ganhos com o câmbio que acabam sendo absorvidos e até mesmo superados pelas perdas decorrentes do aumento da inflação. Tombini chamou a atenção para o custo inflacionário e para o risco embutido na depreciação cambial: ganha-se algo com a desvalorização da moeda, mas se perde com a inflação. E aí, não se obtém o esperado da desvalorização do real. Os custos de produção em reais serão pressionados pela inflação e não aumentam a competitividade da indústria nacional. No fundo, há limites para a aplicação de uma política cambial mais agressiva. A retomada do crescimento, a superação do 0,6% no trimestre, do 1% no ano, exige a coordenação de medidas fiscais, tributárias, estímulos especiais para atrair investimentos, que recuam. Medidas que devem ir além das que já estão em vigor. E é isso o que a equipe econômica promete anunciar talvez ainda este ano.
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