domingo, dezembro 16, 2012

Ansiedade eleitoral - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 16/12 


Há alguns anos, era o candidato da oposição quem antecipava o calendário eleitoral. De uns tempos para cá, verificamos o inverso. Primeiro, foi Lula, que, desde 2009, percorria o país apresentando sua pré-candidata a presidente da República. Aliás, ele começou esse trabalho em 2008, ou seja, dois anos antes da eleição. Dessa vez, não é diferente. O partido do governo é que parece mais preocupado com isso, sufocando aliados e usando para isso todas as armas de que dispõe.

A entrevista do governador do Ceará, Cid Gomes, ao Correio (leia na página 10) deixa antever uma fresta desse debate. Ele fala abertamente sobre a equipe da presidente Dilma Rousseff. Cita publicamente aquilo que muitos mencionam à boca miúda, tanto entre os senadores quanto em meio aos deputados. Dilma é tida como alguém experiente do ponto de vista administrativo, mas Ciro acha que ela centraliza demais porque não tem uma equipe que considere nota mil. Se tivesse, não precisaria centralizar tanto. Cid se ressente, por exemplo, de alguém de peso na área política. Diz abertamente que a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, errou ao citar numa reunião do PT que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, era candidato a presidente da República.

Os aliados - e até a oposição já percebeu - veem uma certa ansiedade do PT em termos eleitorais, sem que haja muitos motivos. O estresse só se justifica se as informações que eles têm indicam economia em baixa no ano que vem. Caso não haja essa perspectiva, e dada a pesquisa do Ibope divulgada há dois dias, não há razão para pânico. A presidente bate recordes de popularidade pessoal. Seu governo também não está nada mal, considerando os números. Para aqueles que leram os índices principais, peço licença para informar os demais: Dilma obteve 77% de aprovação pessoal. No Sudeste, esse percentual subiu de 69% para 75%. Ou seja, não seria de todo errado afirmar que essa aprovação tenha dado um empurrãozinho ao ex-Ministro da Educação Fernando Haddad, prefeito eleito da capital paulista.

Mas o PT - e, por tabela, Dilma - terminaram antecipando o processo, ao segurar os partidos e ao tratar Eduardo Campos como candidato. Cid Gomes tem razão em dizer que quanto mais o PT tratar o aliado como potencial adversário daqui a dois anos, mais isso vai virar uma verdade. E é preciso cuidado para não transformar isso em rompimento ao ponto de dar ao PSB discurso para seguir outro caminho num hipotético segundo turno daqui a um ano e meio.

Para completar, a área política de Dilma não ajuda a construir pontes. Deixa transparecer aos demais a impaciência da chefe e do próprio PT, um partido para lá de estressado, porque está vendo Dilma seguir tirando espaço de poder das tendências. E com Lula em baixa, os petistas não têm alternativa senão se render ao estilo da presidente, torcendo para que a economia não naufrague ao ponto de prejudicar o projeto eleitoral. É aí que rola o estresse da bancada, porque Dilma não é lá muito chegada às assembleias partidárias.

E por falar em Lula.

Na França, o ex-presidente citou que, se vier a ser candidato, espera apoios. Por aqui, houve duas leituras: primeiro, ele puxou para si todo o problema e vai posar de candidato para deixar Dilma livre pela direita, tomando os votos do PSDB ao longo do próximo ano - algo que muitos consideram ter ocorrido em São Paulo na eleição municipal. Essa é a mais lógica.

A outra óbvia, porém meio capenga do ponto de vista estratégico, é Lula abrir a possibilidade de candidatura para dar respaldo à versão do PT de que o falatório de Marcos Valério a respeito do ex-presidente tem objetivos eleitorais, de enfraquecer o maior líder petista para favorecer a oposição. Ora, mas como o partido abriria mão de uma candidata que vai bem, é popular e tem um governo bem avaliado, para colocar outro que teve uma gestão bem cotada, mas que hoje estaria fadado a ficar se explicando em todo "quebra-queixo", aquelas entrevistas geralmente improvisadas, de pé, nas quais a autoridade é cercada por uma parafernália de microfones e gravadores? Não faz sentido. Mais uma vez, somos obrigados a concordar com Ciro Gomes. Lugar de ex-presidente deve ser mais institucional, longe da política miúda e das ansiedades eleitorais. Lula parece ter caído na armadilha da antecipação.


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