FOLHA DE SP - 16/12
SÃO PAULO - A pedidos, comento o problema da qualidade da formação dos médicos no Brasil. Alguns representantes da categoria não gostaram de minha coluna de 8/12, na qual questionei a ideia, tão cara às entidades de classe, de que o país já possui médicos em demasia.
Apresentei alguns números -contamos com 1,8 médico por mil habitantes, contra 2,4 dos EUA, 3,1 da Argentina, 4 da Bélgica ou 4,4 da Rússia- e falei da dificuldade que é antecipar demandas futuras. Lembrei que os médicos americanos tinham o mesmo discurso que os brasileiros, defendendo e obtendo a redução dos cursos, e, hoje, projetam um deficit de até 200 mil profissionais em 2020.
Nunca sugeri que a qualidade dos nossos formandos é aceitável. Ao contrário, evidências, como a última prova do Cremesp, na qual 54,5% dos quase 2.500 graduandos do Estado não acertaram 60% dos testes, indicam que a situação é crítica.
Existem, porém, algumas medidas que ajudariam a mudar essa realidade. A mais urgente é tornar obrigatória a residência -e com preceptoria. É nela que o jovem aprende o que precisa saber. Eu iria mais longe e estabeleceria um prazo para que todos os cursos de medicina tenham sob sua administração um hospital-escola. Não estou falando de firmar convênios com instituições públicas, como se faz hoje, mas de estar realmente no comando de um hospital, sem o que as aulas práticas ganham tons ficcionais. Modelos como o das OS podem ser úteis aqui.
Eu também adotaria um rigoroso exame nacional para os formandos, nos moldes do USMLE americano. Com isso, poderíamos abrir mais vagas sem temor de despejar gente sem qualificação mínima no mercado.
Esses são passos importantes, mas deve-se ter em mente que não existem milagres. Jamais conseguiremos ter bons médicos em número suficiente num país onde o ensino básico, tanto o público quanto o privado, é desastroso, como é o caso do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário