FOLHA DE SP - 18/12
BRASÍLIA - Distribuição de renda, redução da pobreza e expansão da classe média são três coisas distintas, embora aparentadas. Sob a ditadura militar brasileira, por exemplo, houve queda recorde da pobreza, mas a concentração de renda aumentou porque os mais ricos ficaram ainda mais ricos.
A distância entre ricos e pobres está em alta na maior parte do mundo, mas em baixa na América Latina desde a década passada. Esse é, provavelmente, o principal sustentáculo do venezuelano Hugo Chávez e de seus discípulos e aliados na região porque, além do evidente retrocesso institucional, os resultados econômicos do chavismo estão em declínio.
Graças ao avanço anterior da escolarização, a oferta de trabalhadores mais qualificados cresceu mais rapidamente que a de mão de obra braçal, estreitando a disparidade salarial no mercado. Os programas de transferência de renda fizeram a outra parte do trabalho, a que os políticos gostam mais de ostentar.
Deixar de ser pobre não significa ingressar na classe média. Uma coisa é dispor do mínimo para comer e morar; outra é poder consumir além do básico e planejar o futuro. Ensanduichado entre pobres e classe média, há um contingente pouco citado em discursos oficiais, mas já batizado em estudos como os vulneráveis.
Nas estatísticas do governo brasileiro, a classe média já é mais da metade da população do país; os vulneráveis, menos de um quinto. Nessa conta, são chamadas de classe média famílias com renda entre R$ 291 e R$ 1.019 mensais por pessoa.
Com régua menos generosa, o Banco Mundial chegou a conclusões bem diferentes: algo como 32% dos brasileiros estão na classe média; os vulneráveis, 38%, são o maior estrato no Brasil e na América Latina.
Dito de outra maneira, a fatia mais importante do eleitorado da região superou apenas precariamente a pobreza e depende dos governantes para não cair da corda bamba.
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