Um sistema interligado pode estar sujeito a acidentes, mas a sucessão de desligamentos mostra que há muitos pontos vulneráveis a corrigir
Um sistema em que a geração de energia se origina milhares de quilômetros de distância dos centros consumidores sempre estará sujeito a interrupções devido a fenômenos climáticos e acidentes no percurso. O furacão Sandy deixou uma parte da Costa Leste dos EUA sem eletricidade, inclusive o sul da ilha de Manhattan, em Nova York, sem luz por vários dias.
No Brasil, tempestades tropicais não são fenômeno raro e, por isso mesmo, o sistema interligado de energia elétrica deve estar preparado para situações de emergência. Em condições normais, o sistema está programado para funcionar com o máximo de eficiência. A água armazenada nos reservatórios das hidrelétricas — principal fonte do setor — é administrada de modo a dar segurança no abastecimento; assim, nos períodos de pouca chuva, são acionadas usinas termoelétricas, dando-se prioridade às que custam mais barato. Esse sistema é subdividido por regiões para facilitar essa administração e também para evitar que uma situação de desligamento em uma área se espalhe rapidamente pelo resto do país.
Mas não é o que tem acontecido na prática. Os apagões estão se sucedendo, e sempre são acompanhados de uma boa justificativa. Ora o desligamento se deve a algum fenômeno climático, ora a uma falha humana no controle de um equipamento etc.
O Brasil felizmente não vive um momento de escassez de energia elétrica. As fontes existentes são capazes de atender ao suprimento pelos próximos anos, a não ser que haja uma catástrofe.
O problema então parece estar mais nos detalhes do que na concepção do sistema interligado. Como as falhas se sucedem, fica evidente que existem pontos vulneráveis. Foram seis grandes desligamentos desde setembro, sendo que o mais recente, no último fim de semana, deixou sem luz mais de um milhão de pessoas em estados densamente povoados (Rio de Janeiro, Minas e São Paulo). Não são apenas transtornos no cotiano do cidadão, pois os desligamentos trazem graves prejuízos a atividades econômicas, muitos dos quais irreversíveis. No caso do Rio de Janeiro, a interrupção de energia pode afetar profundamente o abastecimento de água, o que, em um verão com altas temperaturas, transforma a vida num inferno.
Trata-se de uma situação que precisa ser bem avaliada, ainda mais quando está previsto um corte de tarifas e queda na receita de algumas geradoras e transmissoras de energia. Se essa sucessão de desligamentos for decorrente de investimentos aquém do necessário ou de manutenção precária, a redução das tarifas de energia, da forma como está sendo imposta, só agravará o problema. Se a queda sucessiva de energia reflete deficiências de gestão e administração, que o sistema interligado passe então por uma revisão. O que não pode é a sociedade ficar exposta às vulnerabilidades que o sistema elétrico tem apresentado.
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