quinta-feira, março 29, 2012

Treze linhas - JULIO VASCONCELLOS

FOLHA DE SP - 29/03/12


Adoro a cidade de São Paulo, mas sempre que chego aqui fico assoberbado com a quantidade de "informações" no espaço urbano.

No aspecto visual, ao menos, isso melhorou muito em comparação à cidade que encontrava, anos atrás, antes da Lei Cidade Limpa.

Por outro lado, quando um pouco desse ruído visual foi removido, ficou ainda mais evidente a multiplicidade de opções de lazer, turismo e gastronomia disponíveis na cidade e a dificuldade em escolher diante de tantas alternativas diferentes.

Acredito que, assim como aconteceu com o diagrama de Harry Beck e o mapa do metrô de Londres, estamos vivendo um momento em que está se multiplicando o número de ferramentas que, ao organizarem as informações on-line, estão nos aproximando e nos incentivando a explorar o mundo off-line.

Seria a evidência contrária à crítica frequentemente feita de que algumas ferramentas digitais "aproximam quem está longe e distanciam quem está perto".

Aos 25 anos, ainda em 1931, Harry Beck desenhou 13 linhas retas no papel que passaram a ser a solução óbvia depois que foi formulada e executada por alguém.

Para qualquer usuário dos sistemas de metrô ao redor do mundo, os mapas das estações são banais e semelhantes.

Passam despercebidos justamente por eficiência e simplicidade. Mas não foi sempre assim.

Antes do desenho proposto por Beck, que abstrai a escala e mantém somente as informações indispensáveis, ou seja, a sequência de estações e os pontos onde elas se cruzam, os mapas de metrô eram um pouco como o espaço urbano de São Paulo, repleto de informações desnecessárias e que por vezes nos distanciam.

As linhas, atualmente retas, eram curvas e traziam as curvas que o metrô percorria por baixo do chão e também os marcos geográficos que ia ultrapassando e que estavam na superfície acima (pontes, rios parques e por aí vai).

Como a escala era real e proporcional à distância física entre as estações, os centros do mapa ficavam cheios de pontos que se sobrepunham, já que essas são as áreas de grande concentração de estações.

Na borda dos mapas, retratando os subúrbios das grandes cidades, enormes espaços vazios e mal utilizados no papel.

Muitos dos guias e das fontes de informações que temos hoje a respeito de como explorar a cidade ainda são assim.

Ainda temos dezenas de informações, mas não necessariamente as que precisamos ou da maneira que precisamos.

Mas isso vem mudando.

Cada vez mais temos guias que nos mostram os lugares que meus amigos visitaram e de alguma maneira apreciaram.

Mesmo que não tenha a oportunidade de ir acompanhado deles num primeiro momento, fica facilitado o sistema de fornecimento de dicas e mesmo de algoritmos de propensão.

Por razões que não conseguimos sequer perceber, ao colher informações a respeito do que meus amigos e eu gostamos, os sistemas conseguem recomendar novas opções de bares, restaurantes e teatros que muito provavelmente serão igualmente apreciadas por nós.

As compras coletivas, por outro lado, emulam a dinâmica econômica de compras em grupo e permitem que indivíduos tenham um estimulo adicional para explorar as opções disponíveis em sua cidade em patamares antes disponíveis apenas para grandes trupes, que precisavam tomar a decisão, se descolocar e usufruir de tudo num mesmo momento.

À medida que essas ferramentas forem evoluindo, nos apoiaremos, cada vez mais, em complexos algoritmos para explicar a "dura poesia concreta" das esquinas de São Paulo.

Fosse Caetano Veloso fazer uma releitura de Sampa, possivelmente seria Siri, a musa do iPhone, e não Rita Lee, a sua mais completa tradução.

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