quinta-feira, março 29, 2012
Lula no jogo - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 29/03/12
Está de volta à mesa aquele que, por sorte ou destino, costuma ter boas cartas em mãos. E, assim, a turma da política prefere esperar passar a eleição municipal e não bater de frente com o governo
Pode parecer mera coincidência o fato de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se apresentar recuperado do câncer na laringe justamente no dia em que o Congresso retoma as votações de interesse do governo. Mas há alguns ingredientes a serem avaliados, capazes de unir esses dois eventos em princípio isolados.
Primeiro, desde que os sites de notícias passaram a publicar ontem à tarde o boletim médico a respeito de ausência de tumores visíveis na laringe de Lula, os líderes partidários passaram a conversar mais detalhadamente com os deputados para angariar votos a favor da Lei Geral da Copa, a proposta escolhida como a marca do distensão na Casa em relação ao governo.
Por falar em governo...
Antes da notícia da recuperação de Lula, os políticos tratavam o ex-presidente como carta fora do baralho para eleições futuras. Nos bastidores, todos se referiam à presidente Dilma Rousseff como irascível, sem paciência para a política. Em conversas reservadas, como registrado aqui há alguns dias, os aliados citavam Aécio Neves e Eduardo Campos como os nomes alternativos ao PT e à própria Dilma.
Neste momento, os planos para 2014 estão novamente na gaveta, pelo menos por enquanto. Com Lula de volta ao tabuleiro, é hora de esperar o que acontece na sucessão municipal para depois retomar os mapas de 2014 à mesa. Afinal, há muitas variáveis em curso que estão claras.
Por falar em eleição municipal...
Os aliados querem tirar a limpo qual o verdadeiro tamanho de Lula em São Paulo. E estão convictos de que esse tamanho será conhecido na sucessão municipal, onde a entrada de José Serra (PSDB) transformou o pleito num laboratório nacional. E o fato de Serra ter tido 52% dos votos na prévia tucana é sinal de que a eleição não deve ser o passeio esperado pelos serristas mais entusiasmados.
Embora ele largue como favorito hoje, ainda há muita coisa pela frente até o início da campanha, em que o poder de Lula de angariar aliados não pode ser desprezado. Além disso, é certo que até dentro do PSD de Gilberto Kassab — aliado de Serra —, Lula tem amigos, como o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, que seguirá a orientação de Kassab, mas não se mostra interessado em fazer campanha a favor do candidato.
Por falar em campanha...
Com Lula em campo, é como se tivesse acabado uma rodada de pôquer e agora viesse a segunda. Todo mundo ainda tem fichas, mas está de volta à mesa aquele que, por sorte ou destino, costuma ter boas cartas em mãos. E, assim, é melhor esperar mais um pouco, não bater tão de frente com o governo e observar o desenrolar do jogo.
Pelo menos, do ponto de vista político, está claro que os deputados e senadores já não veem Dilma como aquela líder que, sozinha, os levará ao pódio em 2014. Tanto que, na noite de terça-feira, o acordo para votar a Lei Geral da Copa era tido por muitos como uma forma de mostrar que, na ausência da presidente, as coisas funcionam. Com a entrada de Lula no jogo, resolveram tirar essa sensação de cena e passaram a espalhar pela Casa que Dilma influiu no acordo orientando sua equipe por telefone.
Por falar em Dilma...
A paz total na base, entretanto ainda está longe. Vai depender de como a presidente tratará os políticos quando voltar da Índia. E não será logo na primeira semana que eles terão essa resposta. Até porque, da parte dos congressistas, já começa a se trabalhar mais uma semana sem muito movimento por conta dos feriados da semana santa. A Páscoa dos parlamentares, pelo visto, começará mais cedo. E, no caso dos senadores, ainda com 14º e 15º garantidos este ano.
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