FOLHA DE SP - 29/03/12
Ontem, parlamentares governistas derrubaram meia dúzia de tentativas de convocação de ministros e dirigentes de megaestatais para depoimentos no Congresso.
Acertou-se a votação do fundo de pensão dos servidores públicos e da Lei da Copa. Está quase certo que a divisão do dinheiro do petróleo (royalties) entre Estados e municípios fica para depois da eleição.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, gerente do cofre, assoprou lideranças da Câmara, com quem teve reunião de impacto imediato (sinal de acerto prévio). A ministra de Relações Institucionais, gerente política, Ideli Salvatti, foi a tiracolo, e no colo ficou. Os ares da Fazenda são mais inspiradores.
Enfim, parece que os ministros com caixa ou chaves de cofre vão circular mais entre os parlamentares. Nem se pode dizer que tal coisa seja ilegítima. Mas mostra como um pouco de conversa e favores dissipam a espuma da crise.
Lideranças empresariais e industriais assopraram palavras no ouvido de parlamentares importantes, nas orelhas do PMDB "rebelado". Esses gerentes de fundos de campanhas eleitorais disseram que não estavam satisfeitos com a confusão.
As lideranças empresariais ora fazem fila diante da tenda dos milagres, a pedir reduções de impostos e outras providências com o fim de melhorar-lhes a rentabilidade.
Como seria possível haver "crise política" quando um governo dispõe de tamanha rede de alianças sociais e econômicas? Talvez com um escândalo que acertasse o coração da presidente ou de um ministro forte. E olhe lá. Lula e membros do núcleo central de seu governo levaram tiros em 2005 e 2006. Alguns caíram. Mas o consórcio liderado pelo PT fica no governo até 2014. Pelo menos.
Não há conflito social ou econômico real e/ou importante, nem manifestação disso no Congresso. No máximo, há por exemplo o Código Florestal, contenda dura, de interesses divergentes legítimos -mas o Congresso está aí para isso. Não é "crise", mesmo que o governo meta os pés pelas mãos nesse caso.
No mais, o governo conta com a tolerância da finança (quando não franca simpatia de pelo menos parte da banca). Acertou-se ou se acerta com a indústria e com parte pesada do empresariado agroindustrial. Continua a expandir os programas de subsídios sociais para miseráveis, pobres, "classe C", nanoempresários etc., coisa na qual não se presta atenção, mas resolve ou amenina a vida de muita gente.
Do que se trata? Da continuidade e das extensões do Bolsa Família, de bolsas universitárias, de dinheiro para escola em tempo integral nas cidades mais pobres, dos programas de microcrédito rural e urbano e outros tantos projetos capilares, que estendem o acesso a serviços públicos.
Como evidência anedótica recente e adicional, considere-se o caso das ONGs. Dilma Rousseff ora promete lei geral para o setor e vai criar fundos com dinheiro estatal e de estatais (rir, rir) para bancar as organizações não governamentais. Recorde-se que ONGs enroladas estiveram na origem da crise da derrubada de ministros no ano passado.
As espumas flutuantes da crise se dissipam com o sopro do poder.
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