FOLHA DE SP - 19/01
BRASÍLIA - Na linguagem diplomática, o silêncio tem a estridência de uma crítica ácida, aguda.
Dilma capitaneou a reação aos EUA quando denunciou os abusos da espionagem americana na abertura da assembleia geral da ONU e uniu-se à alemã Angela Merkel para exigir regras internacionais.
Nem Dilma, nem o Planalto, nem o chanceler Figueiredo, nem o Itamaraty, porém, deram um pio na sexta-feira sobre o longo falatório do presidente Barack Obama prometendo limitar a espionagem de governos amigos e aliados. Motivo, aliás, para o cancelamento da visita oficial de Dilma a Washington --um tapa sem luva de pelica.
A justificativa do governo para o silêncio é intencionalmente banal: como o discurso foi muito detalhado, é preciso tempo para dar-lhe a devida atenção e compreendê-lo, mas Dilma anda muito ocupada. Blablablá.
O fato é que o Brasil considera altamente positivo que Obama tenha sido compelido a mobilizar seu governo para traçar um diagnóstico e se informar dos abusos e que tenha se disposto a se manifestar para o mundo. Mas isso não é tudo.
Faltou algo que Dilma vem exigindo desde que Snowden mostrou que a espionagem abrangia não apenas cidadãos e empresas, mas a própria Presidência da República: um pedido de desculpas.
Ao contrário, Obama foi arrogante ao defender a importância da inteligência e esnobar: "Não vamos pedir desculpas porque nossos serviços são mais eficientes".
Na visão brasileira, ele também foi dúbio ao dizer que não vai mais espionar aliados, mas com uma ressalva: a menos que haja forte razão de segurança nacional. É subjetivo.
A NSA fica onde e como está, seus espiões continuam a postos e a segurança nacional americana, como se sabe, abrange exatamente tudo.
Ok, Obama vai "pegar o telefone e ligar para eles (os amigos)". E a espionagem vai continuar correndo solta. O mundo e os EUA são assim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário