GAZETA DO POVO - PR - 19/01
Diz a oposição que o governo Dilma é a Ilha da Fantasia, uma injustiça com Mister Roarke/Montalbán e Tattoo/Villechaise, seu assistente verticalmente desprivilegiado (como diriam os politicamente corretos), que eram muito mais divertidos e imaginativos que alguns hierarcas do Planalto. Mas a Ilha da Fantasia está realmente presente na permanente tentativa de mascarar realidades sob camadas de maquiagem triunfalista; e a reação às críticas, por mais serenas que sejam, sob toneladas de panqueique paranoide, do tipo eles-contra-nós, ou pior, eles-contra-o-Brasil.
No Maranhão, infeliz estado que está sob o domínio político da mesma família há 60 anos, a governadora e herdeira do clã explica o massacre entre presos como resultado do crescimento do estado... A miséria coletiva está à vista, mas já que farinha pouca, meu pirão primeiro, toca a comprar lagosta, foie gras, camarão e vinhos finos para celebrar no palácio tanta prosperidade. Bizarro, como diria meu neto Leonardo.
Banco Mundial, FMI, bancos privados, especialistas dos mais variados matizes alertam para o crescimento pífio, inflação crescente, contabilidade criativa para fingir que as contas públicas vão bem, deterioração das contas externas; tudo fofoca, especulação, perseguição ao governo popular, responde o governo... Explicações e desculpas à altura do presidente venezuelano Nicolás Maduro, que cunhou uma justificação escatológica para a falta de papel higiênico em seu país: seus patrícios estão comendo mais...
As obras da Copa do Mundo estão atrasadíssimas e a essa altura o ministro Aldo Rebelo já ingressou no território da fé, mesmo sendo materialista histórico: ele “tem certeza” de que não faremos feio, “acredita” que tudo estará pronto, “jura” que nunca uma Copa terá sido tão bem organizada quanto a nossa.
Essas coisas não devem preocupar porque já estamos todos nos acostumando a ouvir as maiores asneiras e absurdos com ares de verdade. O que deve preocupar é que, por trás dessa necessidade de mascarar a verdade, minimizar os fracassos, empurrar as realidades indesejáveis para baixo do tapete, se oculta o desaparecimento, nos governos, de um mínimo de capacidade de fazer as coisas, resolver problemas, melhorar o que vai mal, manter o que vai bem, em suma, fazer aquilo para que existem. Como resultado, nada ou quase nada funciona e convoco o paciente leitor para me desmentir. A temporada de verão está demonstrando a exaustão da infraestrutura: estradas abarrotadas, o telefone celular não funciona, a água é racionada, falta luz intermitentemente, aeroportos entupidos de gente e com o ar condicionado quebrado enquanto passageiros se amontoam aos gritos sem merecer o mínimo respeito das empresas e sob o olhar apalermado da autoridade reguladora.
Tudo conspira contra a eficiência mínima nos serviços públicos e falta mais do que dinheiro: faltam projetos, capacidade de decidir, de escolher gente competente para executar o que foi decidido e de autoridade para cobrar o que deve ser feito. Mas falta também ter coragem política para colocar um limite nos interesses particulares dos diversos grupos sociais e restaurar o conceito de interesse geral ou coletivo; e modernizar e simplificar o emaranhado regulatório e fiscalizador que transformou o ato de empreender qualquer coisa no Brasil em verdadeiro trabalho de Sísifo, Não é a Ilha da Fantasia, é a Ilha da Paralisia.
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