O GLOBO - 19/01
Em 2010, quando a presidente Dilma foi eleita, a inflação terminou o ano, coincidentemente, com os mesmos 5,91% do ano de 2013, mas havia a sensação de conforto econômico com o crescimento do PIB de 7,5%. No ano anterior, em 2009, a inflação tinha fechado em 4,3%, abaixo do centro da meta. O ambiente econômico em que Dilma disputa a reeleição é bem mais difícil.
Se o Banco Central reduzisse o ritmo de alta dos juros agora estaria arriscando. A inflação está alta, há pressões que não vão se reverter, não há espaço na política fiscal para usar os impostos e segurar preços, e havia dúvidas sobre se o BC pagaria o preço de iniciar o ano eleitoral subindo juros no mesmo nível de antes. Ele pagou esse preço, apesar dos sinais de baixo crescimento, confirmados no IBC-Br de novembro que teve queda de 0,31%.
É a inflação, e não a taxa de crescimento, que tem efeito mais danoso na intenção de voto no governo, mas o Banco Central tem razões técnicas para tomar a decisão que tomou. Uma delas é aumentar a confiança no próprio BC. A atual administração nunca convenceu o País de que é autônoma. Pelo temperamento da presidente Dilma, pelas crenças econômicas dos que têm poder na equipe econômica, o Banco Central parece estar sempre sob vigilância, vivendo com um passaporte de curta validade para autonomia. Como um visto que tem que ser renovado continuamente.
Mesmo com efeito menor no ânimo do eleitorado, o baixo crescimento vai erodindo a confiança na economia. Este será o quarto ano de baixo crescimento. Durante todo o mandato da presidente Dilma a inflação permaneceu alta. A presidente que se propõe para a reeleição tem a mostrar uma taxa de crescimento média em torno de 2% ou menos e uma taxa de inflação que permaneceu testando o teto da meta.
Dilma prometia crescimento forte, inflação baixa e juros baixos durante seu mandato. Os juros caíram, voltaram a subir, e dificilmente terão espaço para novas quedas até o fim de 2014. A trajetória dos preços este ano não está favorável.
A boa notícia, ainda a ser confirmada, dependendo do clima nos países produtores, é a da inflação de alimentos mais comportada. É um fator altamente positivo. Os preços não estão fora de controle, mas o consumidor tem percepção de piora econômica quando, ao fazer as compras mensais ou semanais de alimentos, vê a remarcação alta e constante.
Foi o que aconteceu no início do ano passado. Os preços de alimentos dispararam pela coincidência da alta sazonal de frutas, legumes e verduras e o reflexo da elevação dos preços internacionais de grãos. Este ano, a oscilação sazonal está sendo menos acentuada e há chance de os grãos ajudarem.
Há, no entanto, a pressão do dólar. Novas desvalorizações, depois da alta de 15% da moeda americana no ano passado, tornam muito difícil evitar novo aumento da gasolina. Se o dólar sobe muito, e o petróleo não cai, a Petrobras tem prejuízos crescentes com a importação. Se a gasolina sobe, diminui o espaço no orçamento doméstico das famílias, que passaram a usar mais o carro. Se o diesel sobe, fica mais difícil manter as tarifas de ônibus congeladas pelo segundo ano consecutivo.
Por isso, os bancos e consultorias estão prevendo uma inflação em torno de 4% dos preços administrados, e a taxa anual do IPCA ficaria em torno de 6% em dezembro. Não é descontrole, mas é um ponto a mais no desconforto para as famílias: preços há cinco anos em torno de 6%, País há quatro anos com um crescimento do PIB perto da estagnação.
Parcelas da classe média vinham tendo, em suas viagens ao exterior, uma sensação de prosperidade. Turistas eram frequentemente perguntados nas lojas dos Estados Unidos o que estava acontecendo com o País, já que são tantos os brasileiros fazendo compras volumosas. Agora, parte da classe média será barrada desse baile pelo IOF mais alto e pelo dólar que sobe.
Sinais de deterioração que preocupam tanto os economistas repercutem pouco no eleitorado em geral, mas reduzem a confiança do empresariado na administração econômica da presidente. Até agora, o que Dilma fez para reverter esse ambiente desfavorável foi usar um linguajar da caserna e falar em “guerra psicológica”, mas a realidade é que a política econômica não produziu um ambiente favorável a ela. Dilma terá que lutar contra esses fatos na sua campanha eleitora
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