sexta-feira, janeiro 03, 2014

Educação, o mapa da mina - OCTÁVIO COSTA

BRASIL ECONÔMICO - 03/01

Em sua coluna de ontem, o jornalista llimar Franco, que também é sambista dos bons, afirmou que o governo fará de tudo para pôr em funcionamento até agosto as seis mil creches prometidas pela presidente Dilma Rousseff quanto tomou posse em 2011. A meta continua ambiciosa. Hoje, existem apenas duas mil unidades em fase de construção. As outras quatro mil sequer saíram da prancheta. Com obras perto da conclusão há não mais do que 1,3 mil creches. Acredita-se que, com a utilização de blocos pré-moldados, será possível atingir o alvo. Talvez, mas mais importante do que a meta em si é a prioridade à educação infantil. Esta, sim, tem de ser para valer.

Na verdade, não basta erguer prédios para abrigar as crianças. As creches dependem de pessoal especializado, principalmente os Professores. Durante muitos anos, as poucas unidades públicas existentes eram administradas pela área de assistência social. Só mais recentemente, como FUNDEB, as atividades foram transferidas para o âmbito da Educação. Segundo especialistas, não se deve desprezar a experiência dos técnicos em assistência social. Ao contrário, sua prática deu bons resultados que devem ser melhor aproveitados, sem preconceitos. Mas há necessidade de formar quadros voltados especificamente para a educação infantil. E de nada adiantará construir as seis mil creches sem gente capacitada para operá-las.

Em termos objetivos, o governo federal tem que dar todo o suporte às prefeituras para que elas invistam na capacitação dos profissionais. Além disso, não custa lembrar que Professores e seus assistentes precisam ganhar salários dignos. Essa regra se aplica a todos os degraus do ensino público, desde as creches até a universidade. Enquanto for impossível sustentar a família com um único emprego no magistério, será muito difícil alcançar elevar o padrão de qualidade da Educação no país. De Professores exaustos que têm de se desdobrar em vários empregos e várias turmas de alunos, não se pode exigir empenho e motivação. A adesão maciça às greves do ano passado não foi obra do acaso.

Entre as boas notícias de 2013, destacou-se a destinação dos royalties do pré-sal para educação. E também foi bem recebido o projeto de lei que eleva para 10% do PIB os investimentos o setor e prevê a alfabetização universal. Em outra frente, o governo pretende atingir o número de 60 mil escolas em tempo integral (hoje são 49 mil). Nada disso, porém, terá efeito real sem a valorização do magistério. Várias gerações de brasileiros foram educadas em escolas públicas. No Rio de Janeiro, ter filhos e filhas matriculados no ensino médio do Colégio Pedro II e do Instituto de Educação era um sonho de todas as famílias. O próximo passo, quase natural, era conquistar uma vaga em universidades estatais, como a UFRJ, a UFF e UERJ. E assim passavam-se mais de 15 anos em bancos de escolas públicas. O mesmo acontecia em outras grandes capitais.

Os tempos são outros. E a escola privada ganhou qualidade que não tinha. Mas, em parte, beneficiou-se da decadência do ensino público. Por isso mesmo, os grupos privados podem cobrar mensalidades cada vez mais salgadas e aos pais não resta senão pagar a fatura. Mas, se a Educação for tratada como prioridade máxima, esse jogo pode mudar. Certamente vai mudar quando a importância dos Professores for reconhecida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como sempre, como deve ser o caso do comentarista, que deve pertencer a classe média, quando se fala em escola pública ele cita uma federal, que sempre foram de ótima qualidade. Tem que citar as municipais e federais que sempre foram de péssima qualidade. E ainda esquece que prioridade mesmo é o sistema de saúde, onde morrem vários pobres por minuto.