O Estado de S.Paulo - 03/01
Este ano-novo começa com o aumento da percepção da deterioração das contas externas. O salto de 1,44% das cotações do dólar no primeiro dia do câmbio do ano mostra a tensão que toma conta dos mercados. Mesmo com as manobras contábeis aplicadas nos últimos meses aos lançamentos de comércio exterior, o saldo comercial foi medíocre: superávit de apenas US$ 2,6 bilhões, o menor em 13 anos.
As principais manobras começaram em dezembro de 2012, quando o governo determinou que importações de combustíveis realizadas naquele ano ficassem para ser registradas em 2013. Nesse ano, outra anomalia: a Petrobrás "exportou" sete plataformas automaticamente alugadas para a própria Petrobrás para reforçar em US$ 7,7 bilhões seu faturamento. Essas plataformas continuam aqui.
O derretimento do superávit comercial ocorre porque o consumo está subindo acima da capacidade de produção da economia: cerca de 5,0% ao ano em comparação com o avanço do PIB de 2,2%.
A resposta do governo é uma mistura de desconversa com tomada de medidas inadequadas para enfrentar as distorções. Continua afirmando que a forte entrada de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs), de cerca de US$ 57,5 bilhões neste ano, vai compensar a hemorragia de dólares. Não é verdade, apenas os Investimentos de Brasileiros no Exterior devem ter fechado 2013 com um fluxo negativo de US$ 53 bilhões. Essa conta reflete a proporção da saída de moeda estrangeira.
Para evitar o impacto da alta do dólar sobre a inflação, o Banco Central vem colocando à disposição do mercado uma proteção cambial cujas proporções vão ficando insustentáveis. Na semana passada, o governo aumentou de 0,38% para 6,38% o IOF sobre as despesas com cartões de débito em moeda estrangeira. É uma providência de resultados práticos irrelevantes para a Conta de Viagens Externas que, no entanto, é um reconhecimento de que o governo começa a ficar aflito com a saída de dólares.
O governo vai tentar convencer os incrédulos de que a desvalorização cambial (alta do dólar) contribuirá para dar mais competitividade à indústria. Se fosse sincero nisso, não permitiria que o Banco Central fizesse jogo oposto a esse.
Outra distorção acontece nas finanças da Petrobrás. A alta do dólar nas últimas semanas (veja gráfico, no Confira) reduziu a pó a pequena recuperação do caixa da Petrobrás produzida pela alta interna dos combustíveis.
Hoje, o ministro Guido Mantega pretende anunciar um resultado melhor do que o esperado nas contas públicas. Todos já sabem que só foi conseguido graças a receitas extraordinárias de R$ 30 bilhões. Mantega vai esconder que apenas o represamento dos preços e das tarifas dos combustíveis e da energia elétrica produz outro rombo nas contas públicas dos Estados, porque reflete a quebra de arrecadação de ICMS desses itens.
O governo Dilma inicia o ano no limite das margens de manobra de sua política econômica. Infelizmente, em vez de reconhecer os problemas, ela vai continuar a bater no bumbo de que os analistas econômicos seguem fazendo guerra psicológica contra o governo.
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