SÃO PAULO - Merece apoio a proposta da Anvisa de que cigarros sejam vendidos em embalagens genéricas, dos quais conste só o nome do produto e o fabricante --além, é claro, dos já tradicionais alertas do Ministério da Saúde--, sem espaço para cores e outros elementos gráficos que possam caracterizar-se como mensagens publicitárias.
Calma, não me converti à causa dos que acham que, no embate entre saúde e liberdades individuais, a primeira deve sempre prevalecer. Continuo defendendo a legalização das drogas e da eutanásia, mesmo reconhecendo que utilizá-las não é a coisa mais saudável que você pode fazer.
O ponto é que a vida não se mede só em comprimento. Se um determinado indivíduo acha que o tabaco lhe proporciona prazer e pensa que vale a pena trocar alguns anos de existência terrena para conservar essas doses de bem-estar, quem somos nós para contestar-lhe esse direito?
Se há um papel legítimo para o Estado aqui é assegurar que as pessoas tenham acesso às informações relevantes para a tomada de decisões, que incluem as estatísticas sobre os óbitos e moléstias provocados pelo fumo e até quantidades módicas de contrapropaganda, que podem mobilizar aspectos emocionais.
Voltando à regulação dos maços de cigarros, a questão aqui é que o cérebro humano já é por natureza mais vulnerável do que deveria aos charmes de substâncias psicoativas, sendo, portanto, uma covardia colocar a indústria da publicidade para reforçar essa tendência.
Se ainda não se convenceu, façamos um experimento mental. Imaginemos que estamos num imenso Uruguai onde todas as drogas acabaram de ser legalizadas. Você gostaria de ligar a TV e ver modelos em trajes sumários anunciando as virtudes de uma nova marca de cocaína? Por mais libertários que sejamos, não me parece moralmente aceitável estimular as pessoas a adotarem comportamentos de risco.
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