O GLOBO - 10/10
Acossados por problemas econômicos, governo e partido ainda enfrentam uma dissidência. Campanha eleitoral será um avanço se debater reformas
A aliança Marina Silva-Eduardo Campos, uma espécie de ponto fora da curva, traz um grande risco em potencial para a reeleição de Dilma Rousseff porque, entre outros motivos, tira do tabuleiro o jogo predileto petista, o de enfrentar os tucanos, os quais o PT já apendeu a derrotar. A presidente Dilma, no entanto, até que pesquisas mostrem o contrário, continua a grande favorita à reeleição.
Antes de mais nada, a aliança Marina-Campos, passada a euforia inicial, precisa vencer um percurso acidentado em busca de um programa comum que atenda à visão de Brasil de universos distantes entre si como, por exemplo, ambientalistas e o agronegócio.
Ensina a História que mudanças profundas costumam ocorrer quando há dissidências no bloco político no poder. Na democracia ou fora dela. Na ditadura, o mais claro exemplo, e próximo, é o da redemocratização brasileira, viabilizada, sem traumas, pelo racha no bloco civil e militar que havia 25 anos dava as cartas. Na fronteira ao Sul, há o caso em andamento na Argentina em que o ramo kirchnerista, com sonhos de perpetuação na Casa Rosada, pode vir a ser derrotado por um grupo dissidente do próprio peronismo.
No enfrentamento de dissidentes e da oposição já estabelecida, Dilma e PT têm o flanco vulnerável do esgotamento do modelo econômico lastreado em consumo sem investimentos e elevados gastos públicos. Dilma tentou criar uma “nova matriz econômica”, com juros baixos, câmbio desvalorizado e muita injeção de dinheiro público, proveniente de endividamento, pela mão dirigista do BNDES. Não deu certo. Colheu mais inflação, desequilíbrio nas finanças públicas (que tenta mascarar, em vão, pela "contabilidade criativa") e deterioração das contas externas. Na edição de ontem, o “New York Times”, em editorial, tratou de problemas que Dilma enfrenta, entre eles uma infraestrutura que ajuda a encarecer as mercadorias nas cidades e a baixa qualidade da educação.
Compõe o cenário a previsão de baixo crescimento confirmada anteontem pelo FMI, de 2,5%, para o ano que vem, idêntica à estimativa para este ano. A projeção de 2014 recuou 0,7 ponto percentual em relação à anterior.
Há, ainda, as manifestações, com características inéditas de violência, fato que precisa ser decifrado por governos e elites. Afinal, a renda subiu, o desemprego caiu e tudo parecia róseo, segundo o discurso oficial. Mas as ruas demonstram que não. Há um mal-estar assentado muito provavelmente na falta de perspectiva de uma juventude que não consegue boa qualificação no ensino público, padece, como a maioria da população, para se locomover nas regiões metropolitanas e tem sido castigada pela inflação, entre outras mazelas. A tal “nova” classe média pode estar se desiludindo.
É importante que o quadro político-eleitoral favoreça uma discussão profunda sobre a retomada das reformas (do Estado, tributária, previdenciária, trabalhista, política). Cada dia mais necessárias para abrir mais um ciclo de crescimento
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