Demagogia não compra ônibus nem remunera mão de obra. Nós temos muitas perguntas
Este foi um ano atípico. De grandes manifestações como há muito não se via. Diferente do que alguns podem pensar, a mobilização social no país foi positiva para as empresas de transporte coletivo. Foi a partir dela que passou a ser atraente, aos olhos do poder público, a ideia de priorizar uma política para o setor. Nunca se falou tanto em desoneração de impostos para ônibus e outros meios de massa. As manifestações alavancaram a discussão. E isso era o que precisávamos há muito tempo. Que reconhecessem a importância do serviço que prestamos e que debatessem medidas de incentivo.
Mas, durante o percurso, avaliações desastrosamente repetidas desencadearam problemas que até o momento não têm solução. Muito se falou que não era pelos 20 centavos. Nós também endossamos o coro. Não é pelos 20 centavos _ ou 26, mais precisamente, que é o que falta hoje para um valor que comporte os custos. É, sim, pelo que representa essa diferença na prestação do nosso trabalho. É pela quantidade de indefinições que temos e respostas que não recebemos.
Dentro de três meses, se iniciarão as negociações de dissídio que atingem os mais de 9 mil funcionários das 13 empresas de ônibus de Porto Alegre. Como faremos uma boa proposta se não temos indicativos do que está por vir? Não sabemos se a tarifa será reajustada, se teremos algum subsídio ou se as isenções serão revistas. Até que ponto será possível impedir uma mobilização provocada pela desmotivação e insegurança que experimentamos? Não temos a resposta.
Até agora não sabemos qual método será utilizado para calcular a tarifa. Ninguém sabe. Será a metodologia que diz a lei, baseada em estudos e aplicada com convicção durante anos, ou será a que alguém inventar? Não temos sinalização do poder público sobre questionamentos do edital de licitação, nem a certeza sobre a implantação do metrô ou sobre o início da operação do BRT. Não sabemos quando poderemos renovar veículos. Somente neste ano, deixamos de comprar 200 novos ônibus; no ano que vem, serão mais 200 que não vamos adquirir. E assim caminhamos para um sucateamento da frota difícil de ser revertido.
Como vamos investir, ou como vão investir potenciais interessados no sistema de Porto Alegre, sem que as regras estejam claras? Não cabe usar demagogia nesse quesito. Demagogia não compra ônibus nem remunera mão de obra. Nós temos muitas perguntas. Quem tem as respostas?
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