O Estado de S.Paulo - 10/10
Como era previsto, em setembro a inflação em 12 meses medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu para nível inferior aos 6,0% ou, mais precisamente, para 5,86%. O resultado não deixa de passar certa sensação de alívio. Tudo indica que o ano fechará com um avanço do custo de vida mais ou menos nessas proporções. Mas não dá para garantir que a desaceleração será duradoura.
O ponto positivo é que, apesar da esticada nos preços do pão, não se confirmou nova onda altista na área dos alimentos, em geral a maior fonte de pressão sobre o orçamento do consumidor médio.
No entanto, a inflação continua espalhada e resistente. O índice de difusão, que é o número de itens da cesta de consumo com aumento de preços, ainda é relativamente alto (57,8%), o que sugere uma demanda acentuada causada por um volume excessivo de moeda no mercado. Para a mesma direção aponta a inflação dos serviços, que atingiu 0,64% em setembro e 8,73% em 12 meses. São preços que não sofrem a concorrência do produto importado. Essas são as principais razões pelas quais o Banco Central continua puxando para cima os juros básicos (Selic).
Em médio prazo, os preços continuam pressionados pelo menos por dois fatores: (1) pela excessiva despesa do setor público, que tende a acentuar-se à medida que esquentar a temporada eleitoral; e (2) pelo aperto do mercado de trabalho em situação de pleno emprego, que continua puxando os salários acima dos ganhos de produtividade. A temporada das vendas de final de ano, que demanda mais emprego de mão de obra temporária, deverá acentuar a escassez de pessoal, especialmente no comércio.
Também é preciso levar em conta que certos preços controlados pelo governo continuam fortemente represados, como é notório na área dos combustíveis. Os preços monitorados tiveram um avanço acumulado em 12 meses de apenas 1,13%, muito abaixo da inflação. Mais cedo ou mais tarde, o governo terá de admitir correções que se propagarão por outros segmentos da economia, especialmente sobre os transportes. Não se pode desprezar, também, o risco de novo avanço sazonal nos preços dos alimentos. E, no início de 2014, espera-se mais uma paulada nos custos do ensino (mensalidades e material escolar).
Em compensação, espera-se certo alívio nos repasses da alta do dólar para os preços da cesta do consumo. A indicação da economista Janet Yellen para ocupar a presidência do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deve ajudar a desarmar a principal bomba de efeito retardado que ameaçava a disparada das cotações das moedas estrangeiras também em reais. Sua nomeação para o cargo agora é praticamente certa. Yellen deverá ser cuidadosa na esperada operação de reversão da atual política monetária excessivamente expansionista. Isso significa que a temida volta da turbulência dos mercados em consequência de repentina escassez de dólares poderá ser evitada ou, se não isso, reduzida. Menos mau.
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