O Estado de S.Paulo - 10/09
Às vésperas da "comemoração" de cinco anos da quebra do banco de investimento Lehman Brothers, marca simbólica do início da maior crise econômica global desde a Grande Depressão dos anos 30, balanços do que ocorreu de lá para cá são inevitáveis. Talvez o mais abrangente deles mostre que, assim como nos diagnósticos dos problemas que a geraram, as políticas mais eficazes para superar a crise continuam controversas e divididas por linhas de pensamento econômico, impermeáveis às novidades trazidas pelos fatos.
Sinais, mesmo que em boa parte permaneçam bastante ambíguos, de que o mundo desenvolvido, protagonista das primeiras fases da crise, caminha para uma retomada gradual do crescimento, não são ainda suficientes para costurar consensos. Mesmo em relação aos Estados Unidos, a locomotiva que, neste momento, puxa o trem dos desenvolvidos, muitos suspeitam que a recuperação atual ainda seja inconsistente. Que dizer então da Europa, que continua a se debater com desemprego gigante e dívidas públicas colossais, embora pareça ter superado as ameaças de ruptura da moeda única?
Agora surge mais um ponto de discórdia. São variadas as indicações de que as economias emergentes passarão por uma etapa de ajuste, se não chegando à contração, apresentando redução do ritmo de crescimento. Depois que avançaram, em uma década, de 38% para metade da economia mundial, a perda de fôlego dos emergentes opera como uma sombra relevante nas expectativas de retomada sustentável da economia mundial.
Mas não há, mais uma vez, convergência nas explicações para a atual tendência de perda de valor das moedas emergentes, com o consequente aumento de pressões inflacionárias e a necessidade da adoção de políticas corretivas, que impõem limitações ao crescimento. Para alguns, normalmente com visão mais ortodoxa, esses problemas se devem à ausência, estreiteza ou lentidão de reformas estruturais capazes de assegurar ganhos de competitividade e produtividade. Nada - ou quase nada - a ver com excessos de liquidez internacional, desregulamentação de mercados financeiros e outros elementos das crises e bolhas recorrentes nas últimas três décadas.
Outros, porém, de perfil mais heterodoxo, incluindo especialistas de prestígio, como Paul Krugman, Nobel de Economia, estão convencidos de que a presente desaceleração dos emergentes traduz justamente efeitos colaterais da exacerbação financeira que tomou conta da economia global dos anos 80 aos dias de hoje. Para estes, a nova etapa que está se desenhando é apenas mais uma da mesma e longa crise cujos sintomas se revelam em recorrentes estouros de bolhas financeiras.
O refluxo dos emergentes - que, diga-se, também está pegando economias, como a do México, tidas por muitos como mais competitivas -, de acordo com essa visão, expressaria o processo de estouro da bolha mais recente de uma série de outras, com as devidas repercussões globais, cuja lista inclui a dos subprimes do mercado de imóveis residenciais nos Estados Unidos, em 2007, a das empresas de tecnologia, nos anos 2000, a asiática, na década de 90, e a do crédito imobiliário e poupança, também nos EUA, nos anos 80.
Segundo esse modo de interpretar a evolução da "crise de 2008", a nova bolha dos emergentes teria parentesco com a produzida em 1997-98 e que abateu os então chamados "tigres asiáticos", agravando os problemas de balanço de pagamentos de países como o Brasil. A diferença é que, desta vez, felizmente, a profundidade e a abrangência do estouro da bolha caçula na família das bolhas tenderiam a ser mitigados pela adoção, relativamente generalizada, de controles dos fluxos de capitais. Assim, teria sido evitado um excessivo endividamento em moeda estrangeira, a consequente quebradeira que se seguia à desvalorização rápida das moedas locais e a ampla disseminação dos prejuízos pela economia global.
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