FOLHA DE SP - 10/09
A violência dos black blocs já não tem nada a ver com as manifestações de junho, que mobilizaram o Brasil
Os episódios de violência observados neste Sete de Setembro em várias capitais brasileiras, com vandalismo, depredações, cenas de repressão policial e participação ampla dos chamados “black blocs”, mostram que uma das maiores preocupações que estavam relacionadas às grandes manifestações populares de junho se tornou realidade. O povo desapareceu das ruas; ficaram os vândalos. Esse era um perigo que já apontávamos ainda durante a “revolta junina”, após o episódio no qual o Centro Cívico de Curitiba acabou destruído, apesar de os depredadores serem a minoria entre o grupo maior de manifestantes pacíficos, que no entanto se mostrou incapaz de controlar os mais violentos. Naquele mesmo dia, episódios até piores tinham sido verificados em outras cidades e a presidente Dilma Rousseff afirmou que a violência “envergonhava o Brasil”. Felizmente, em Curitiba o Sete de Setembro transcorreu sem tumultos, apesar da presença de manifestantes (que, a julgar pelos materiais apreendidos, estavam, sim, preparados para o combate), dos quais 27 foram detidos. Mas a violência vista em outras cidades, especialmente São Paulo, Rio e Brasília, pede uma reflexão.
A violência mascarada dos black blocs já não tem nada a ver com as manifestações de meses atrás. Em editorial de 23 de junho, lembramos que ir às ruas exigia responsabilidade – algo que falta aos black blocs, com sua estratégia de buscar o confronto. Por mais que eles digam ter uma pauta – que inclui o arquivamento de um “projeto de lei antiterrorismo”, reclamações contra os gastos da Copa do Mundo e o fim do voto obrigatório –, o recurso constante ao vandalismo e à depredação ofusca as reivindicações. E agora que a população pacífica que poderia engrossar o coro desapareceu e ficou só a violência, cria-se um círculo vicioso alimentado pela resposta policial, que por sua vez gera novos confrontos. No Sete de Setembro, a baderna dos black blocs ainda serviu para deixar em segundo plano o tradicional Grito dos Excluídos, promovido por movimentos sociais em conjunto com alguns grupos ligados à Igreja Católica.
Se a estratégia por si só já é questionável, seus resultados se mostram ainda mais duvidosos. Quando as manifestações tinham um caráter pacífico, a classe política procurou dar uma resposta à sociedade levando ao Congresso a chamada “agenda positiva”. Acredite-se ou não na sinceridade dos parlamentares, o fato é que foram obtidos avanços importantes, como o arquivamento da PEC 37, que limitaria o poder de investigação do Ministério Público. Com os protestos reduzindo-se a demonstrações de violência, as autoridades sentem-se livres para enfatizar apenas o método dos black blocs e priorizar a manutenção da ordem pública, ignorando a discussão sobre os temas que realmente incomodam os brasileiros.
Já repetimos, em mais de uma ocasião, que as manifestações de junho representavam uma grande oportunidade para que os brasileiros percebessem que a participação política não se dá apenas por meio do voto. Mas essa participação sadia também exige cara limpa, e não o furor mascarado dos black blocs. O recurso ao anonimato só ajuda a proteger as piores intenções – seja em relação ao fim, seja em relação aos meios. Quem realmente deseja um Brasil mais justo e mais moralidade na política não tem por que esconder o rosto.
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