O Estado de S.Paulo - 04/09
As exportações do Brasil perdem dinamismo. O saldo comercial dos primeiros oito meses do ano foi fortemente negativo: importações maiores do que exportações em US$ 3,8 bilhões, o pior resultado para o período em 18 anos (veja o gráfico). E apontam para o negativo ao longo de todo este ano.
O problema está longe de ser apenas comercial. As contas externas são motor rodado demais que queima óleo. Se não for retificado, ameaça fundir. É consequência das opções de política adotadas e da falta de ajuste às condições diferentes de agora.
As explicações para o fenômeno dadas pelo governo são meias-verdades. A primeira delas é a de que as exportações deste ano embutem uma anomalia contábil na medida em que registram um déficit da Conta Petróleo (trocas internacionais de petróleo e combustíveis, também negativas) de US$ 4,5 bilhões. É o resultado da mudança das regras de registro das importações que normalmente fariam parte das estatísticas de 2012 e que foram repassadas para 2013. É um argumento descabido porque as importações aconteceram, independentemente das disposições do calendário gregoriano. E mesmo descontado o rombo da Conta Petróleo, o saldo dos oito primeiros meses do ano seria pequeno, de apenas US$ 700 milhões.
A segunda justificativa é a de que o desempenho comercial está prejudicado pela crise global - outra vez ela - que derrubou os preços das commodities, das quais o Brasil é grande exportador.
Uma terceira explicação é a de que as exportações de manufaturados foram castigadas pelo câmbio. Se fosse assim, então também estaríamos diante do resultado da política econômica adotada. Mas já sabemos que é mais do que isso. É tanto pela falta de competitividade da indústria, que um câmbio mais desvalorizado (dólar mais caro em reais) não conseguirá compensar, como, também, pela falta de acordos comerciais com o resto do mundo. De todo modo, ambos os fatores são consequência das opções feitas.
Por trás de tudo está, outra vez, a prioridade dada ao consumo sem contrapartida do aumento da oferta. O brasileiro comeu exportáveis e forçou importações para garantir o suprimento de que a produção interna não deu conta.
O impacto da escolha não se restringe à balança comercial. O resultado em conta corrente, que era positivo em 1,25% do PIB em 2006, está caminhando rapidamente para 3,5% negativo neste ano (veja o Confira). Por enquanto, os Investimentos Estrangeiros Diretos ainda cobrem a maior parte. No entanto, a virada já à vista da economia americana e a deterioração da economia brasileira tendem a rarefazer a entrada de capitais.
A novidade não é a crise nem o depois da crise, mas o fim do período das vacas gordas. Mesmo que as cotações das commodities se recuperem nas bolsas internacionais de mercadorias, os bons tempos, que o Brasil não aproveitou, não voltarão tão cedo.
A economia brasileira precisa de um ajuste, que repense a matriz energética para a nova realidade da autossuficiência dos Estados Unidos em petróleo e gás (já em 202o), que reequacione a indústria e que defina uma política de investimentos em infraestrutura.
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