VALOR ECONÔMICO - 21/08
"Estou cansado de falar com ela, ela não faz" (Lula)
Integrantes da cúpula do PT que privam dos gabinetes em que circula a presidente Dilma Rousseff têm uma opinião a respeito de quem é, na verdade, seu real adversário na disputa presidencial: o governador pernambucano Eduardo Campos, por tudo - postura política, comportamento, pensamento, palavras e obras -, é quem incomoda mais. Apesar do discurso de que a candidata que ameaça Dilma é Marina Silva, pelo óbvio segundo lugar nas pesquisas de opinião e o potencial de transformar-se na opção de quem não quer o PT nem o PSDB, acham difícil que se torne provável.
Há a questão da criação do partido, pois a Rede está com sua tramitação muito mais atrasada do que estava o PSD, sua referência, à mesma época. Uma vez registrado o partido, considera-se que muito há ainda que acontecer. Não basta esta espécie de carta aos brasileiros dos economistas que apoiam a candidata para dar segurança de que o governo Marina não será prejudicado pelos dois fundamentalismos que se atribui aos seus alicerces, o religioso e o ambientalista.
Se atravessar a tormenta da criação do partido, ou à última hora filiar-se a uma legenda ainda sem candidato, Marina Silva terá uma campanha dura pela frente para convencer a todos que não será pautada por princípios radicais, até porque faz questão, bem como seu staff, de expor seus compromissos inabaláveis.
A candidatura Eduardo Campos é outra história, avaliam os articuladores da candidatura Dilma. Têm tratado o governador de Pernambuco com tanta cautela que seu interlocutor é somente o próprio ex-presidente Lula, chefe político maior da campanha da reeleição. Foi a situação do governador que, apesar de lanterninha nas pesquisas de intenção de voto, acionou os mecanismos de defesa do PT.
Primeiro, notaram que perdiam terreno quando confrontaram-se depoimentos de empresários que com ele estiveram e já havia se reunido com Dilma nos últimos tempos. Um deles, sob condição de anonimato, pois a presidente enfrenta mal a discordância, conta que são convidados a ir ao Palácio para serem ouvidos. Lá chegando a presidente fala por quarenta minutos, discurso que encerra com uma pergunta: "você não acha?". Para ficar livre da pecha de avessa ao diálogo, a presidente faz longos monólogos, o que levou um desses empresários a concluir: "desde Fernando Collor não tínhamos um interlocutor tão opressivo".
Eduardo Campos aparece pouco, faz o discurso de que não é hora de campanha, recolhe-se mas faz política o tempo todo.
A Dilma falta, sobretudo, a política, é o que avalia o PT. Rui Falcão, o presidente do partido, fala com ela sobre as opiniões dos petistas, mas não está na operação diária. Ela escolheu Aluizio Mercadante, Ideli Salvati e João Santana para fazerem política. "O governo virou um governo gerencial, vai bem com ela quem melhor gerencia sua pasta, não é a política que aproxima", diz um dos participantes das avaliações do momento político.
No seu último encontro, a cúpula do PT chegou a uma síntese das providências necessárias para criar uma aura de segurança à candidatura: "Achamos que vamos ganhar, mas se não colocar política no governo, não vai dar".
Nessa avaliação, a presidente estaria agindo por soluços. Quando se vê em apuros, recebe empresários, trabalhadores, sem-terra, líderes políticos, deputados e senadores e, aparentemente, negocia. Mas nada cede. Passada a tormenta, esquece.
O presidente Lula teve uma conversa dura com a presidente no sentido de tentar mudar seu comportamento e colocar política no governo, como define a síntese do partido. Tinha que sair da clausura palaciana, retomar a campanha eleitoral nos Estados, negociar com o Congresso, sentir-se liberada a reorganizar o governo. Lula garantiu-lhe que não é candidato como a pressão de petistas pode fazer crer. Nesta intervenção, Lula fez outros aconselhamentos. Por exemplo, determinou a alguns integrantes do primeiro e segundo escalões do governo que não se candidatem, para não haver um esvaziamento e tudo começar do zero com os novos ministros e secretários executivos que vierem a assumir com a desincompatibilização. Alguns não gostaram, mas todos devem atender ao ex-presidente.
Parte das recomendações de Lula a presidente seguiu. Está, por exemplo, em campanha aberta pelos Estados. No entanto, a outras não deu atenção. Por exemplo, reitera o PT, não impregnou seu governo de política.
Dilma não acatou também a recomendação, feita por instância do PT, de não participar de agenda com o governo de São Paulo. "Com Alckmin é briga", diz um dos integrantes da cúpula. O investimento eleitoral em São Paulo é integralmente no ministro Alexandre Padilha. Outro erro apontado a ela, que persiste, é que não adianta liberar dinheiro vivo, na veia, se a verba não é acompanhada da política. Prova disso teria sido a vaia que levou na reunião de prefeitos aos quais acabara de anunciar a liberação de R$ 3 bilhões.
"É para enfrentar Eduardo Campos que Dilma tem que mudar. Quem mais nos assusta é ele, que tem estrutura partidária, é da política e não está errando. Já conseguiu deslocar para seu lado, apenas por simpatia, por enquanto, setores insatisfeitos da base do governo e do PSDB", avaliam líderes petistas.
Por volta de fim de abril e início de maio, o ex-presidente Lula falou com a presidente Dilma sobre tudo isso. Não deu certo, constatou a análise feita no mês seguinte quando já explodiam os protestos populares. Na ocasião a abordagem foi entendida como um sinal de que o ex-presidente poderia voltar já em 2014 se as coisas continuassem a dar errado. O PT inteiro foi ao QG lulista para apelar ao ex-presidente, que foi taxativo: "Estou cansado de falar com ela, ela não faz".
Voltou a falar em fim de julho e início de agosto, quando, ao voltar de viagem ao exterior, ela o procurou para finalmente pedir sua opinião sobre as manifestações e apelou a Lula a ajudá-la a recuperar o governo e a ser reeleita. A partir daí o ex-presidente não só traçou a estratégia que ela procura agora cumprir, como tomou a iniciativa de enviar ao comitê da reeleição cabeças mais políticas. Lula anunciou-se, ao PT inclusive, absolutamente comprometido com a reeleição dela.
Um balanço parcial do PT, neste momento: Dilma está reagindo, investiu no programa de importação de médicos como marca do seu governo, tem recebido políticos. Mas até onde a vista alcança o PT ainda não viu a chegada da política ao terceiro governo do partido.
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