ZERO HORA - 21/08
A situação é esta: a Venezuela nos preside e o Paraguai nos despreza
O surgimento do Mercosul focou nosso comércio internacional na perspectiva do próprio bloco. Vinte anos depois, entretanto, o acordo não acompanhou a velocidade e os formatos que organizaram o mundo. Tampouco conseguiu dar fluência entre seus próprios membros. O fluxo de negócios e de conhecimento deriva da timidez à indocilidade.
Mesmo nutrindo certa admiração acadêmica e ideológica, o horizonte do Mercosul é tímido. Temos apenas três documentos de livre comércio assinados _ com Israel, Palestina e Egito, sendo que exportações para esses países correspondem, respectivamente, a 0,2%, 0,01% e 1% do total brasileiro. Tratados semelhantes não existem com os nossos grandes players, que são China, Estados Unidos, Holanda, Japão e Alemanha.
O enfraquecimento da balança comercial brasileira recoloca a necessidade de ampliar a rede de relações bilaterais. Dados do MDIC mostram que, nos primeiros sete meses de 2013, nossas exportações estiveram em queda _ na comparação com o mesmo período do ano passado.
A tendência mundial aponta para a ampliação dos tratados bilaterais ou multilaterais. É o caso das recentes negociações envolvendo os Estados Unidos e a União Europeia, batizadas de Tratado Transatlântico. A Aliança do Pacífico vai nessa mesma direção. Colômbia, Chile, México e Peru impulsionaram o relacionamento que possuem ao acordar a liberalização total do comércio entre as nações.
Enquanto grandes e múltiplos blocos se organizam para fazer grandes e múltiplos negócios, aqui estamos às voltas com excentricidades. Por exemplo: há poucos dias, quem assumiu a condução do Mercosul foi Nicolás Maduro, da Venezuela. Ele é presidente de uma nação repleta de problemas políticos, econômicos e sociais, com pouca credibilidade para liderar qualquer transação comercial. Outro exemplo: o Paraguai, outrora expulso e agora novamente convidado, abriu mão de integrar o Mercosul.
A situação, portanto, é esta: a Venezuela nos preside e o Paraguai nos despreza. Não vai aqui nenhuma pilhéria aos nossos vizinhos, pois respeito e compartilho as identidades que nos aproximam. Mas a perspectiva de um bloco não pode ficar apenas na amizade ou nos protocolos de intenção. Precisa gerar dividendos comerciais recíprocos. E, nesse sentido, estamos amarrados às quizilas de um grupo com alcance limitado.
Se continuar fechado em si mesmo, o sentido comercial do Mercosul tende a minguar ainda mais. E um país com a dimensão e o potencial produtivo do Brasil não pode esperar, romanticamente, que esse momento chegue. É preciso agir diferente e depressa. E não faltará quem queira estabelecer acordos bilaterais conosco.
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