O Estado de S.Paulo - 21/08
A ex-senadora Marina Silva não discute em público nem em particular nada que diga respeito à possibilidade de não conseguir criar seu partido, a Rede Sustentabilidade, a tempo disputar a Presidência da República em 2014.
Mas o fato de Marina não trabalhar com essa hipótese não quer dizer que não haja inquietação crescente entre seus correligionários sobre a necessidade de se resolver a seguinte questão, se o pior acontecer: ela desiste de concorrer ou filia-se a outro partido?
Ninguém sabe, pois a ex-senadora não aceita falar em plano B. Seria, é verdade, render-se antes do tempo e abrir uma discussão que enfraquece o esforço para tornar válidas as quase 500 mil assinaturas exigidas para o registro do Tribunal Superior Eleitoral a fim de que o processo esteja concluído até 5 de outubro, um ano antes das próximas eleições.
Este é o prazo legal. Mas há o tempo político a ser considerado. Se quiser concorrer de qualquer jeito em 2014, Marina Silva precisará de alguma antecedência para articular a filiação a outra legenda.
Haveria, em tese, duas opções: a volta ao PV ou a entrada no PPS. Hoje, entre os partidários da Rede, considera-se a segunda alternativa mais factível que a primeira em decorrência das divergências com a direção dos "verdes", razão pela qual Marina deixou o partido.
Mas nada há além de hipóteses devido à resistência da ex-senadora em tratar do assunto. O problema é que o tempo passa e as dificuldades não são poucas. A Rede já entregou cerca de 850 mil assinaturas, mas até agora algo em torno de 200 mil foram validadas em cartórios eleitorais.
Marina tem reclamado junto à Justiça Eleitoral - pediu pessoalmente celeridade à presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia - da burocracia, dos critérios para a certificação de assinaturas, de má vontade por parte de funcionários de cartórios e até de algum grau de boicote político. Na média têm sido recusadas 20% das assinaturas, chegando a 30% em São Paulo.
Isso leva à avaliação de que há 50% de chances de a Rede obter seu registro a tempo e 50% de possibilidade de não conseguir. Essa imprevisibilidade já provocou prejuízos: dos 30 deputados que poderiam se filiar na Rede, hoje apenas três continuam firmes na decisão, dê o que der: Alfredo Sirkis (RJ), Walter Feldmann (SP) e Domingos Dutra (MA).
O dilema de Marina Silva não é fácil, pois nem pode se precipitar em jogar a toalha nem tem muito tempo para organizar a alternativa. Se de um lado a filiação a outra legenda foge ao conceito que pautou a criação da Rede como espaço partidário, digamos diferenciado, de outro a desistência de concorrer desperdiça um patrimônio considerável de 23% de intenções de votos e o segundo lugar nas pesquisas de opinião.
São decisões de custo político alto.
Cenografia. Presidente do PSDB, o senador Aécio Neves diz que aceita disputar prévias para a escolha do candidato a presidente da República. Isso tendo o controle da máquina, o apoio majoritário do partido e, portanto, a plena certeza de que sairia vencedor.
Em tese, fez um lance para pôr em xeque a proposta de realização de prévias defendida por aliados de José Serra. Ao se mostrar disposto a disputar, Aécio não daria pretexto ao ex-governador para sair do partido.
Na prática, porém, não há vinculação entre uma coisa e outra: o prazo de Serra para sair ou ficar vence em 40 dias e as prévias seriam bem depois disso. De onde não faz lógica que a decisão dele se dê em razão da realização de uma hipotética disputa. Nas condições atuais, perdida.
Ao se observar os movimentos de Serra e Aécio, a impressão que dá é que estão em cena num jogo de constrangimentos mútuos.
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