O Globo - 08/04
Enquanto muitas empresas se queixam de demanda enfraquecida, há quem proponha esfriá-la ainda mais
Os diagnósticos sobre o que anda acontecendo na economia brasileira estão recheados de incongruências. A inflação estaria sendo impulsionada por um mercado de trabalho aquecido essencialmente pelos serviços, como se esse setor pudesse se retroalimentar indefinidamente, sem relação com as demais áreas. Enquanto isso, a indústria estaria definhando por incapacidade de competir com os produtos importados, o que deveria gerar uma baixa nos preços que não se evidencia nos índices de inflação. A agricultura como um todo não teria dificuldade para concorrer no mercado internacional, mas no plano doméstico a oferta de legumes e verduras não vem reagindo aos bons preços. Produtores em geral estão se queixando de demanda enfraquecida, mas vários economistas insistem que é preciso esfriá-la ainda mais para derrubar a inflação. Na verdade, ninguém está conseguindo enxergar onde de fato estão hoje os nós górdios que impedem a economia brasileira de encontrar um novo equilíbrio.
Mundo dependente do petróleo
A indústria do petróleo trabalha necessariamente com cenários de longo prazo, pois cada ciclo de investimento do setor tem duração de aproximadamente dez anos (da pesquisa de áreas a serem exploradas até o início efetivo da produção). Os cenários para 2030, apresentados pela presidente da Petrobras, Graça Foster, aos novos alunos dos cursos de MBA da Fundação Getúlio Vargas, projetam uma redução não relevante na participação dos combustíveis fósseis na matriz energética mundial. Atualmente, carvão, petróleo e gás participam com cerca de 80% e em 2030 deverão representar 77% (com redução do carvão e do óleo, mas aumento do gás). No Brasil, que tem uma matriz bem mais limpa, a participação dos combustíveis fósseis deverá diminuir de 53% para 46%. O que crescerá relativamente é a participação das chamadas fontes renováveis modernas, como a energia eólica e a solar.
Entretanto, considerando-se o crescimento esperado, o mundo e o Brasil ainda precisarão de muito petróleo. Segundo Graça - ela mesma uma ex-aluna de MBA da Fundação - Iraque, Estados Unidos, Brasil e Canadá, nessa ordem, são os países com mais condições de contribuir com aumento de produção para atender ao consumo de hidrocarbonetos nesse horizonte de 17 anos. O Brasil saltará da atual décima terceira posição para o quarto lugar entre os maiores produtores de petróleo na próxima década, ultrapassando inclusive a Venezuela, na América do Sul.
Pré-sal não é abstração
A razão de a Petrobras ter decidido promover uma campanha publicitária especificamente para chamar a atenção para o pré-sal é que mesmo na própria indústria muita gente desconhece que a produção nesses campos já atingiu a casa de 300 mil barris diários, patamar alcançado em apenas sete anos, desde que foi declarada comercial a primeira descoberta. O plano da Petrobras é atingir em 2016 a produção de 1 milhão de barris diários no pré-sal. Hoje são 26 poços produtores, dos quais seis na Bacia de Santos, que são os de maior vazão. O tempo para perfuração de um poço no pré-sal da Bacia de Santos caiu de 130 dias para cerca de 77 dias. Como os custos de perfuração são da ordem de US$ 1 milhão por dia, essa redução permite que a Petrobras acelere os investimentos no desenvolvimento da produção.
Biotecnologia brasileira nos EUA
A verba destinada ao tratamento de esgotos em Itaboraí, como compensação ambiental pela instalação da refinaria do Comperj, só daria para atender a 30% dos domicílios do município. Mas um sistema projetado na UFRJ e desenvolvido por uma das empresas de biotecnologia abrigadas na Fundação BioRio permitirá que, no mesmo espaço, se consiga tratar 100% dos esgotos coletados. O poluído rio Irajá, no fundo da Baía de Guanabara, também será limpo por um processo de flotação. Assim como no caso do saneamento básico, a biotecnologia está cada vez mais presente nas nossa vidas, especialmente no caso da saúde, da produção de alimentos e de combustíveis de fontes renováveis. Em alguns segmentos o Brasil está até bem e por isso a Agência Promotora de Exportações (Apex) se mobilizou, com apoio da Fundação BioRio e de outras instituições do setor, para que o país marque presença na maior feira de negócios do setor, que começa no dia 22, em Chicago. Entre empresários, autoridades e observadores do mundo acadêmico, a delegação brasileira deverá chegar a 250 pessoas, todos com compromissos agendados. A feira terá metade de um dia dedicado ao Brasil.
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