CORREIO BRAZILIENSE - 08/03
O dia é o Internacional da Mulher, mas quem está todo-todo nesses últimos dois dias é o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Depois de uma campanha praticamente clandestina, em que seus aliados torciam para que o barulho de fora não atrapalhasse a eleição, ele assumiu de fato na quarta-feira o comando da Casa. Conseguiu segurar o tumulto provocado por alguns parlamentares para tentar evitar a votação dos vetos sobre os royalties do petróleo e fazer valer a vontade da maioria de proceder a votação. Ali, apesar da ira da bancada do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, que recorreram ao Supremo Tribunal Federal tentando anular a votação, a maioria saiu com a sensação de fortalecimento do presidente do Senado.
Renan foi de uma paciência ímpar. Não se excedeu, nem quando o líder do PR, Anthony Garotinho, do Rio de Janeiro, quase lhe bate o rosto ao puxar o microfone. Tampouco aceitou as provocações ou entrou em bate-boca com os parlamentares que reclamavam as questões de ordem. A avaliação geral, obviamente não compartilhada por deputados do Rio de Janeiro, é a de que Renan foi firme e conquistou o respeito da maioria.
Em política, entretanto, é impossível desfrutar dos louros de um episódio indefinidamente. Ali, Renan matou o primeiro leão, mas faltam outros que ele precisa domesticar ou manter alimentados para que não lhe provoquem desgostos ali na frente. Quem tiver o cuidado de ver o script e o histórico dos senadores do PMDB que ascenderam alguns degraus nesse início de legislatura entenderá ao que estou me referindo.
Enquanto isso, no antigo G-8…
Todos aqueles que ameaçaram Renan em 2011, no início desta legislatura, hoje ocupam alguma função importante para os padrões do Senado. Eunício Oliveira, do Ceará, é líder do PMDB na Casa. Vital do Rêgo, da Paraíba, comanda a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Valdemir Moka (MS) preside a Comissão de Assuntos Sociais (CAS), que sabatina todos os postos importantes da área em que o governo Dilma Rousseff pretende tirar o seu discurso reeleitoral. Ricardo Ferraço (ES) é presidente da Comissão de Relações Exteriores. E, para completar, Eduardo Braga (AM) é o líder do governo.
Esses senadores no início de 2011 tentaram formar o G-8, ao lado de Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos e Luiz Henrique da Silveira, três peemedebistas históricos. Formaram, mas, aos poucos, arrefeceram o movimento por dois motivos: primeiro, Renan lhes ofereceu espaço. Depois, perceberam que era muito melhor combater por dentro do que partir para o confronto direto.
Obviamente, o fato de ocuparem essas posições não significa que vão partir de imediato para uma disputa interna. Ao contrário. Agora, eles são maioria nos postos-chaves, enquanto do antigo grupo só restou Renan em posição de destaque. O ex-presidente do Senado José Sarney, sempre atuante e com uma memória de fazer inveja a muitos, vai se licenciar do mandato em breve para terminar o livro Testamento para Roseana, uma obra em que promete contar detalhes da história política brasileira sob a ótica de quem atuou ou viu de perto os episódios mais importantes dos últimos 65 anos da vida pública do Brasil. O senador Romero Jucá é vice-líder, mas não tem mais aquele protagonismo todo sob os holofotes, como era no tempo em que ocupava a liderança do governo na Casa. Diante desse quadro, a avaliação do antigo G-8 é a de que Renan agora tem que jogar a favor eles, se quiser se manter fortalecido dentro do PMDB. Ou seja, esse grupo é um segundo leão a ser cuidado.
E na Câmara…
Para completar, Renan não pode descuidar ainda da relação com os deputados da legenda, leia-se o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e o líder do PMDB, Eduardo Cunha. Essa turma é encabeçada pelo vice-presidente da República, Michel Temer, reeleito comandante partidário. Esse grupo é o terceiro leão e o esforço será no sentido de mantê-los felizes para evitar que, ali na frente, o partido retome a velha rinha entre senadores e deputados. Até aqui, estão todos bem, mas há uma preocupação no sentido de evitar que a reforma ministerial — algo que tende a privilegiar os deputados de Minas — não crie uma cizânia dentro do partido.
Tudo isso indica que Renan pode aproveitar o fim de semana para dar aquela descansada em berço esplêndido. Mas, na segunda-feira, lá estará ele, de novo, lidando com seus leões. Como nós, mulheres, os políticos também cuidam de, pelo menos, um leão por dia. A todas as leitoras, mulheres lutadoras, fica aqui a minha homenagem pelo dia de hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário