Com a independência do Banco Central, conquista sagrada dos brasileiros, não se brinca
O BEN Affleck certamente concordaria comigo: há "Argo" de errado em uma economia que cresce recessivos 1% ao ano e ostenta níveis de pleno emprego. Que empregos são esses? Penteador de macaco? Lambedor de sabão? É esse o prestador de serviço tapuia, o autônomo emergente que toda pesquisa de marketing define como "a nova classe C"?
Vamos combinar que Dilma não está sendo admirada mundo afora como uma tremenda administradora. E eu não estou falando apenas da implicância da revista "The Economist". A má vontade da comunidade internacional parece vir dos cargos que ela ocupou em ambas as gestões anteriores do PT.
Mais do que o malfadado negócio da plataforma de petróleo no Texas, "Argo" me diz que o sacrilégio cometido ao interferir na independência do Banco Central, uma conquista sagrada dos brasileiros que trazem viva na memória a lembrança do sacrifício que foi derrotar o inimigo da inflação, pode custar muito caro à presidente, não é mesmo, Ben Affleck?
Foi a partir dessa bisbilhotice que se começou a questionar a atuação da presidente, a despeito de sua popularidade entre mineiros e goianos, gregos e troianos. O país mudou de cara com os programas sociais de Lula e Dilma. Mas a volta do fantasma da inflação começa a assustar os não beneficiados pelos programas sociais.
O efeito psicológico não há de ser desprezado. E nem o quadro das esperanças prometidas há dez anos que ainda não decolaram, seja por inabilidade política (vide o mensalão), por falta de visão ou por dar preferência a um modelo industrial eleitoreiro e falido.
Em vez do visionário PAC, nós continuamos a financiar carroças para que o mercado interno circule em uma inexistente malha viária com gasolina subsidiada. Nossa "oitava potência econômica" existe apenas no papel, fabricada por efeito contábil e sustentada por exportações de commodities para a China. Somos uma Venezuela gorducha que ainda não extraiu seu petróleo nem se deu conta de que irá precisar de tecnologia de fora para fazê-lo.
Enquanto isso, nosso IDH continua raquítico. Produzir empregos não qualificados como manicures e produtores de mel e distribuir cisternas no Nordeste é tapar o sol com a peneira. É claro que o Bolsa Família alivia o desespero e é melhor tê-lo do que jogá-lo no incinerador. Mas o que realmente mudou o cenário, até Renato Paes de Barros, o economista gênio que implantou o Bolsa Família saberia reconhecer, foi o Plano Real.
Antes dele, trabalhadores recebiam reajustes salariais abaixo da inflação, o que promovia achatamento dos salários, impossibilidade de que esses assalariados obtivessem acesso à educação e uma demanda maior por mão de obra qualificada, que era paga com salários maiores -o que promovia inclusive o aumento da desigualdade.
Note que, nos últimos dez anos, ninguém estava nem aí que renda fosse um "indicador imperfeito" de bem-estar. Bastou Dilma começar a querer manipular os índices da economia -ao mesmo tempo em que deu para peitar bancos, construtoras e concessionárias do setor hidrelétrico para que começasse a chiadeira.
Pelamor! Ou um ou outro! Tudo ao mesmo tempo não vai dar!
Fora que foi um parto construir nossas instituições econômicas. Mas dá para perceber que há algo errado quando metade do país viaja para comprar enxoval, pasta de dente e toda aquela quinquilharia, né não?
De positivo mesmo, só a mudança de meta estabelecida pela presidente, de 5% para 10% dos investimentos do PIB em educação até 2020, sendo que serão mais de R$ 3 bilhões só em alfabetização, em 2013/14.
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