FOLHA DE SP - 23/03
A capacidade destrutiva da força armada mais poderosa do planeta não levou a paz para a região
QUANDO, HÁ dez anos, o então presidente dos Estados Unidos George W. Bush informou o esmagamento da resistência iraquiana, não trouxe novidade. Desde o primeiro dia, foi perceptível a supremacia integral dos invasores. Referendou a preponderância americana sobre o ditador Saddam Hussein, só satisfeita quando este foi enforcado.
Constatou-se, desde então, que salvo pela produção petrolífera do Iraque, há justo motivo para lamentar a perda de tantas vidas. O conflito foi gerado pela informação oficial (falsa) de que o ditador dispunha de armas nucleares.
A capacidade destrutiva da força armada mais poderosa do planeta não levou a paz para a região e não tornou melhor o relacionamento dos envolvidos. Neste decênio, temos motivo para preocupação em eventos que compreendem naquela área, direta ou indiretamente, pelo menos Síria, Líbano, Arábia, Turquia, até Egito e Jordânia -além do Iraque.
Sírios e libaneses vieram em grande número para o Brasil, desde o fim do século 19. Integravam, como sabem todos, o Império Otomano, li-derado pela Turquia. Passado mais de um século, destacam-se enquanto cidadãos brasileiros na política e em todos os ramos da cultura, da economia e de interesse social. Pessoas com origem naquela área integram a vida nacional.
Por outro lado, há que se lembrar dois dados quanto a Israel. Seu reconhecimento na ONU, com a participação de Oswaldo Aranha, ministro no governo de Getúlio Vargas.
A visita dos últimos dias do presidente Obama à Israel confirma a solidariedade integral dos Estados Unidos ao governo israelense. Nem por isso diminui a preocupação do Brasil e de suas autoridades com a situação criada.
Temos a proximidade de amigos, parentes e colegas, em todos os níveis da participação judaica, na sociedade brasileira, desde o século 16. Judeus de várias partes do planeta se inserem na vida de nosso povo, como cidadãos brasileiros, empenhados nos esforços pelo progresso do Brasil.
Esgotado o primeiro decênio da história, desde a invasão do Iraque, verifica-se que o ideal da paz e do equilíbrio interno e externo não foi alcançado pela força na região. É preciso insistir na busca da pacificação dos espíritos. Ao menos, para não piorar.
Constata-se, nesse perfil resumidíssimo, a dificuldade do governo brasileiro para opção em face de qualquer dos lados. Exemplo substancial da diferença está na preocupação com as duas Coreias. Os imigrantes vindos daquelas nações, vivendo no Brasil e especialmente em São Paulo, estão chegando à segunda geração. São muitos, mas não se comparam aos que vieram antes, que começam a se sentir brasileiros.
Para confirmar o direito vigente há o art. 5º da Constituição brasileira. Diz que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade."
Os mesmos direitos são explicitados em 78 (setenta e oito!) incisos do art. 5º. O inciso 4º, do art. 2°, inclui, no rol dos fundamentos do Brasil, "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor idade e quaisquer outras formas de discriminação".
Em paz. Sem imposições.
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