O Estado de S.Paulo - 23/03
Dentro de mais duas semanas começa mais uma safra da cana de açúcar no Centro-Sul. A expectativa é de crescimento da produção tanto de matéria-prima como de produtos acabados. Mas o principal problema continua sem solução, porque o achatamento dos preços dos combustíveis derivados de petróleo continua desestimulando o setor.
(Apenas para refrescar a memória: o álcool tem 70% do poder energético da gasolina. Cada vez que os preços do álcool ultrapassam o nível de 70% do preço da gasolina, o consumidor tende a substituir o álcool pela gasolina.)
Hoje, cerca de 40% da frota nacional de veículos leves dispõe de motores flex, que podem funcionar com qualquer proporção de álcool ou gasolina. Na semana passada, os levantamentos da Agência Nacional do Petróleo mostraram que os preços do álcool nos postos de combustível estavam algo acima de 71% dos preços da gasolina. Os subsídios à gasolina são um dos fatores responsáveis pelo forte aumento do consumo de 19%, em 2011, e de 12%, em 2012, em relação ao consumo do respectivo ano anterior.
A produção brasileira de álcool na temporada passada foi somente 3% maior do que na anterior. Os 21 bilhões de litros gerados ficaram muito aquém do recorde obtido dois anos antes, de 27 bilhões de litros (veja o gráfico).
A consultoria Datagro prevê para esta safra produção de 26 bilhões de litros de álcool, um aumento de 13% sobre a do ano anterior. No Centro-Sul, de onde provêm 90% do álcool do País, deverão ser moídos 587 milhões de toneladas de cana, 10% a mais do que na safra 2012/2013. Desse total, 51% serão destinados à produção de álcool.
Não dá para seguir afirmando que o setor continua tão desestimulado como antes. Conta agora com melhores condições em pelo menos três áreas:
(1)Revisão de preços - desde junho, o governo concedeu dois reajustes nos preços da gasolina que reduziram a diferença entre os preços internos e externos. Os cálculos sobre essa diferença variam de instituição para instituição. O Deutsche Bank, por exemplo, avalia que ainda falta reajustar a gasolina em 7%.
(2) Mais álcool na mistura - a partir de maio, quando se espera que a produção do ano já tenha tomado ritmo, a proporção de álcool anidro na gasolina comum deverá aumentar de 20% para 25%, o que garantirá mais demanda para o produto.
(3) Desoneração - o governo já prometeu reduzir, ou até eliminar, as contribuições do PIS-Cofins sobre os preços do álcool nas usinas. Se e quando sair, essa decisão deverá baixar sensivelmente os custos de produção.
São providências na direção correta, mas insatisfatórias se o objetivo é transformar o Brasil em grande produtor mundial de combustíveis renováveis e ecologicamente corretos. O governo não tem uma política clara para o setor. Às vezes parece dar prioridade à produção e ao refino de petróleo, como se o álcool lhe fizesse concorrência desleal; outras, dá a entender que teme acusações de que esteja prejudicando a produção de alimentos para favorecer a produção de combustíveis. É uma política ou falta de política cujas distorções começam no canavial e acabam no bolso do proprietário do veículo.
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