FOLHA DE SP - 08/12
Embora as possibilidades sejam amplas, é modesto o uso da internet como instrumento de diplomacia
CERCA DE 35% da população mundial usa a internet. É parcela minoritária, mas nada desprezível: 2,5 bilhões de pessoas. Em 2006, eram menos da metade do que são hoje. Em 2016, serão o dobro.
Um computador conectado à internet pode servir como loja, banco ou ponto de encontro. Sem sair de casa, podem-se ler as notícias, emitir uma certidão negativa de um cartório ou conversar com os amigos.
Você manda beijos por e-mail para uma pessoa do outro lado do mundo, e ela se considera beijada.
Essa possibilidade de executar ações concretas por meios virtuais modificou de forma irreversível os padrões de comportamento em todas as áreas da atividade humana. A diplomacia não foi exceção.
A adequação a esse novo ambiente é um grande desafio para as chancelarias mundiais. Ainda não se conhecem todas as implicações que a utilização de meios virtuais terá sobre o exercício da atividade diplomática, mas já é clara, na comunidade internacional, a consciência de que a popularização das novas tecnologias exigirá que os ministérios de Relações Exteriores redefinam seus métodos de trabalho.
Alguns ministérios já começaram a desenvolver ações de diplomacia virtual. O Departamento de Estado norte-americano, por exemplo, tem comunicação direta, pela internet, com mais de 15 milhões de pessoas. Embaixadas de países como Índia, Israel e Brasil têm contas oficiais no Twitter e no Facebook. Hoje, seria inconcebível, para uma chancelaria, não ter uma página eletrônica.
Embora as possibilidades sejam amplas, a utilização da internet como instrumento de diplomacia tem sido explorada com cautela.
Persiste, entre formuladores de política externa, certo ceticismo talvez decorrente de dificuldades em identificar a totalidade das funções que suas páginas eletrônicas poderiam cumprir. Já é comum governos empregarem comunicação direta como ferramenta para a difusão de informações políticas, econômicas e culturais. Mas pode-se fazer mais.
Um bom exemplo seria que países com limitações orçamentárias para manter rede mais ampla de embaixadas no exterior garantissem sua presença internacional por meio de embaixadas virtuais. Tal solução, de baixo custo, largo alcance e fácil acesso, permitiria o desempenho de funções diplomáticas básicas, como prestação de informações comerciais, promoção cultural e obtenção de serviços consulares.
Uma embaixada virtual nunca terá o peso político de um embaixador residente, mas para países sem recursos serviria como alternativa.
Porém a contribuição mais importante do ambiente virtual é torná-lo mais democrático. A internet favorece a aproximação entre os formuladores da política externa e o povo. Facilita o acesso da imprensa à informação. Permite a participação popular múltipla e livre como insumo do planejamento diplomático.
Serve como instrumento de transparência e promoção de valores democráticos. Enfim, dá mais legitimidade às ações de política externa. E isso é muito bom.
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