O GLOBO - 08/12
COM ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO
Enquanto o crescimento desaponta para baixo, a inflação surpreende para cima. O ano terminará com PIB em torno de 1%, para um IPCA na faixa de 5,5%. Pelo quinto mês consecutivo, a inflação mensal deste ano foi maior do que a do mesmo período de 2011. As projeções indicam que o IPCA vai acelerar para 6% até março, mas depois voltará a cair.
Os alimentos subiram de preço de elevador e estão descendo de escada. As passagens aéreas aumentaram 11% em novembro. Inevitável lembrar como a desvalorização do real está batendo no custo das companhias. Os combustíveis são importados, e o dólar mais caro não ajuda.
Outros preços também surpreenderam no mês, como a energia elétrica, que subiu 1,28%, e os automóveis novos, que aumentaram mesmo com o IPI reduzido. Tudo isso fez com que a inflação viesse mais salgada do que o esperado. Os economistas previam 0,5% e deu 0,6%. Parece pouco, mas cada casa decimal conta muito quando o assunto é manter a inflação dentro da meta.
Há outro fator pressionando a alimentação: os serviços. Comer fora de casa está mais caro porque os restaurantes estão gastando mais com aluguéis e salários dos funcionários. Esse custo é repassado para o preço da refeição. No ano, a alta dos alimentos chega a 8,68%. Os serviços sobem 8,23% em 12 meses.
No acumulado do ano, os principais produtos que não pressionaram a inflação tiveram algum tipo de ajuda do governo. É o caso de automóveis e eletrodomésticos, que ficaram mais baratos pela queda do IPI; da gasolina, congelada pela Petrobras; e do etanol, que teve que cair de preço para competir com a gasolina. Sem essa mão amiga, o quadro para a inflação seria pior em 1 ponto percentual, pelas contas do professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio.
Em 2013, a tendência é que esses artifícios continuem sendo utilizados. As reduções no IPI devem ser renovadas, haverá desonerações para diminuir o custo da cesta básica e a programada queda do preço da energia. Por isso, Luiz Roberto Cunha prevê que mesmo que o PIB volte a crescer mais forte, para 3,5%, o IPCA cederá um pouco, fechando em 5,23%.
Embora a inflação ainda não tenha visto o centro da meta na atual gestão do Banco Central, também não está no radar um cenário de descontrole de preços. A expectativa dos economistas é de que os juros não voltarão a subir e há até quem aposte em novos cortes, com a Selic sendo reduzida para 6,25%.
Antecipação de consumo. Apesar de todos os estímulos, a Anfavea projeta queda de 1,5% na produção de veículos este ano. Primeira redução em 10 anos.
Melhora gradual. O desemprego nos EUA caiu para 7,7% em novembro, a menor taxa desde dezembro de 2008 e a mais baixa da administração Obama.
Risco maior. A Fitch reduziu a classificação de risco da Eletrobras, depois que a empresa aceitou as regras do governo nas concessões de energia.
Preço para baixa renda sobe mais
A inflação da baixa renda, medida pelo INPC, estourou o teto da meta em várias capitais do país. No Brasil, a taxa acumulada em 12 meses está em 5,96%, mas em Belém chega a 7,72%. No Rio de Janeiro, 7,18%, em Salvador, 6,89%. Já em Brasília registra a menor variação, de 4,39%. Esse indicador tem um peso maior dos alimentos.
Petróleo subiu 15% desde junho
Desde o último reajuste da gasolina, em 22 de junho, o preço do barril do petróleo subiu, em média, 15%, segundo a Austin Rating. Para esse reajuste não chegar às bombas, o governo reduziu a Cide, o imposto que incide sobre o combustível. No período, o real também se desvalorizou. Por aí fica mais evidente a pressão sobre o caixa da Petrobras, que importa gasolina a um preço mais alto do que vende aqui dentro. Se o governo autorizar um reajuste de 10%, o impacto sobre a inflação deve ser de 0,4 ponto, pelas contas da Austin. Mas o BC afirmou em ata que o seu cenário para definir os juros não leva em conta reajustes do combustível.
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