O GLOBO - 09/03
Neste ano eleitoral nunca é demais refletir sobre a realidade brasileira, a fim de atualizar nossa percepção sobre o país, melhor acompanhar a campanha política e aprimorar o discernimento na hora de votar.
Neste presente momento, minha percepção é a de que o Brasil sofre de incompetência endêmica em aproveitar oportunidades oferecidas pela História e por seu potencial. Apesar dos progressos substanciais, permanece sob um padrão de qualidade de vida inferior ao que, 50 anos atrás, antecipávamos atingir no início do século XXI. Pertenço a uma geração que, na juventude, acreditava piamente na inclusão do Brasil, até o fim do século XX, entre os países mais desenvolvidos do planeta. No entanto, o máximo que logramos foi a inclusão no agora desmistificado grupo do Brics.
Os dez anos de PT em nada contribuíram para gerar uma promissora alteração de percurso. Ao longo do último decênio nos afastamos ainda mais do status de nação envaidecida de seus costumes políticos, empenhada em executar reformas modernizantes, confiante na condução de seu destino econômico-social e desempenhando um papel admirável no cenário internacional. Hoje, é deplorável o estado de ânimo da população ante as instituições nacionais e nossa política externa é opaca.
Até mesmo os avanços verificados no combate à pobreza ainda dependem excessivamente de programas assistenciais tipo Bolsa Família, padecendo da escassez de investimentos em educação, saúde, alimentação, habitação popular, transporte coletivo, eficiência dos serviços públicos e demais segmentos essenciais aos grupos de menor renda. Esse gênero de investimento é imprescindível à sustentabilidade do incremento da equidade social.
Por outro lado, é frustrante constatar a inexistência de agremiações políticas aptas a proporcionar uma refrescante alternância de poder. O PSDB, em teoria classificado como maior partido de oposição, omitiu-se de forma espantosa de atuar como tal e de apresentar um projeto nacional convincente. Como consequência, abriu espaço para a direita empedernida, pseudoliberal e munida de argumentos simplórios, arvorar-se como o mais legítimo oponente ao governo. Esse papel estaria em melhores mãos se fosse assumido por sociais-democratas, pela direita sensata e pela esquerda lúcida.
Desde a ascensão do PT ao poder até meados de 2013, os observadores internacionais exaltavam o sucesso brasileiro e enalteciam a liderança do ex-presidente Lula. Fundamentados na leitura fútil de indicadores conjunturais e em motivações especulativas, esses louvores contribuíram para insuflar o ridículo discurso no gênero “nunca antes na história deste país”.
A conjugação entre o raquitismo da oposição partidária e a impunidade generalizada propicia ao PT o uso abusivo da máquina do Estado para continuar no poder, ao ponto de tornar-se mais apropriado falar em “regime petista” do que em governo do PT.
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